terça-feira, 18 de junho de 2013

Aprofundando a postagem "Hora da matrícula: algumas dicas"

Manifestantes ocupando as ruas de Curitiba ontem (segunda-feira) a noite.
Nesses tempos de protestos, manifestação dos 100 mil (uns 10 mil em Curitiba, ontem), múltiplas reivindicações por uma melhor qualidade do serviço público prestado à sociedade, um estudante me alertou que a postagem anterior não resolvia problema algum. O que Daniel Cavalcante escreveu? Vamos ver:

Ótimo post, professor Francisco Aquino! Só discordo no ponto em que o post me parece, de uma certa forma, conformista, incentivando o aluno apenas a "desviar" dos problemas, encontrando soluções alternativas, e mascarando o verdadeiro problema. Acredito que uma instituição com o nome e respaldo que tem o IFCE tem que ter docentes que representem bem a instituição e que contribuam de maneira efetiva para com a formação dos alunos. Pagamos impostos e estudamos bastante para adentrar o curso, e o mínimo a que temos direito é a educação de qualidade. Não fazemos um curso EaD, e sim presencial. Precisamos de aulas, teóricas e práticas, não de qualquer jeito, mas de qualidade! Precisamos valorizar o feedback dos discentes como forma de melhorar cada vez mais o ensino. Se o professor é realmente um educador, ele receberá os feebacks e tentará melhorar. Se ele se acha no topo e acima do aluno, considerando que seus feedbacks não têm importância, considero que ele não é digno de ali estar e deve ser substituído sim. Somos um curso de nota 5 no MEC e temos que fazer jus a isso!

De fato, ele tem razão! Mas, como eu sei como funcionam as coisas no setor público, como é o ritmo de contratação de novos professores, o que pode (ou não pode) ser feito com um professor que não cumpre as suas funções adequadamente, a demora entre o pedido de um novo equipamento até a sua instalação em um laboratório, o tempo que leva para a compra de livros novos para biblioteca, etc, etc, etc, então sou obrigado a manter o tom "conformista". Claro, isso - ser conformista -, a longo prazo só vai piorar a situação.  Então, o que fazer?

A primeira coisa é justamente essa: tomar consciência que as coisas podem e devem ser melhores, quais os principais problemas, identificar os piores entraves.  E que um conceito "5" não significa que somos "perfeitos".

O segundo ponto é encontrar formas efetivas de lutar pelas melhorias, consolidar o que é bom, saber como corrigir os erros. Como grande parte disso envolve lidar pessoas, então tudo isso pode ser desgastante, cheios de detalhes e, talvez, concessões, podendo levar muito tempo. Isso exige uma grande força de vontade daqueles que estão à frente da gestão e uma "cobrança" contínua por parte dos alunos. Se os alunos estiverem bem representados por um centro acadêmico forte, essa cobrança pode render bons frutos em pouco tempo - vários semestres ...

Uma coisa que temos pouco e que poderia ser mais estimulada seria a formação de professores com mais didática e conceitos pedagógicos "práticos". Nenhum engenheiro nasce "educador". Não temos uma formação pedagógica adequada. Depois de vários anos de prática, erros e acertos, alguns conseguem mais ou menos atingir esse nível. Esse caminho poderia ser mais rápido e menos penoso, principalmente para os alunos.

Com isso tudo, "naturalmente", a qualidade do ensino vai melhorar, teremos mais aulas de laboratório, as reclamações por parte dos alunos devem diminuir, e, possivelmente, a empregabilidade aumentar com o tempo. E o conceito "5" vai ser mais representativo.

Mesmo assim, sendo talvez um pouco pessimista, um cenário ideal "nunca" vai se materializar. Temos vários problemas que são externos aos IFs (e Universidades, Escolas), por exemplo: a não formação de bons professores (os salários ainda são baixos).  E problemas "internos": a estabilidade no emprego tende a fazer com que o profissional (não só no caso de professores) se acomode e passe a trabalhar em uma região de conforto que não traz nenhum benefício a quem depende de sua atuação [acho que estou colocando a mão em um vespeiro], obviamente, existem muitas exceções [diminuindo o número de vespas ... ].

Em resumo, ficar calado não adianta muita coisa. Ser um estudante que só vai à aula e acha bom quando o professor falta também não ajuda muito. Brigar de qualquer jeito só vai trazer mais complicações. Saber negociar soluções, propor novas ideias e alternativas é o único caminho, seja dentro de uma escola seja nas ruas. E para isso o diálogo e paciência são ferramentas fundamentais.

Como réplica ao texto acima, Daniel escreveu:

Verdade, professor. Mediocridade é algo que me revolta, especialmente quando se trata de algo relacionado a educação. Talvez porque eu também seja professor e pretenda futuramente atuar como professor acadêmico, e por acreditar que, para ensinar, é necessário ter profundo gosto pela profissão, uma vez que vc vai estar lidando diretamente com pessoas e com a construção da base de uma sociedade, estando diariamente exposto. Talvez por eu acreditar que o fato de não termos uma formação pedagógica como engenheiros ou whatever e não deva ser usado como pretexto para falta de formação; quando se busca algo cujas bases não se tem, o primeiro passo é focar tal aquisição - não ter feito formação em pedagogia não me impediu de estudar grandes filósofos e educadores humanistas como Freinet, Vygotskyy, Piaget, Dewey e nossos digníssimos Paulo Freire e Ruben Alves, e tentar trazer o melhor de suas ideias para as aulas. A quem quer realmente evoluir em sua profissão, o mínimo que se espera é um pouco de flexibilidade analítica e receptividade de feedbacks. E olha que até aqui só estamos falando, basicamente, de didática e interação com o aluno. Outros critérios como pontualidade e assiduidade não exigem nenhum preparo pedagógico, mas apenas bom senso e respeito para com o próximo!

O que é inaceitável é ouvir alguns professores comentando, na própria gerência, entre si sobre como não prepara(ra)m aulas e como pouco se importam com isso; ignorarem a opinião dos alunos e, muitas vezes, tirarem sarro dela; verem a educação de maneira verticalizada, como se estivessem em um nível hierárquico superior, onde o aluno deve ser submisso à autoridade e arbitrariedade do professor, enquanto, na verdade, o professor é um prestador de serviços, onde os consumidores são os alunos; é chegar a uma aula pontualmente e ter que esperar 10, 20, às vezes 50 minutos pelo professor, que, algumas vezes, sequer se desculpa pelo atraso; é pegar ônibus e enfrentar hora em terminais para assistir a uma aula e, chegando lá, o professor não comparecer, muitas vezes sequer comunicando à turma; e tantas outras não conformidades que acontecem diariamente, por alguns "gatos pingados" que só denigrem o nome de nossa Instituição.

E minha resposta mais curta:

Daniel, novamente seu comentário merecia uma resposta mais destalhada. Sendo bem econômico: a grande maioria dos nossos professores (engenheiros ou não) poderia se esforçar um pouco mais para darem melhores aulas, não lhes faltam capacidade técnica, talvez falte uma maior cobrança (tanto dos seus "superiores" quando dos alunos) e um pouco mais de profissionalismo. As vezes, o ensino deixa de ser prioridade.

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