Imagem de uma caçada pré-histórica - fonte: virtualstore94. |
Pesquisa flagra primeira caçada pré-histórica das Américas
Uma ponta de lança incrustada em uma costela de mastodonte mostrou que esse primo pré-histórico dos elefantes estava sendo caçado nas Américas, a caminho da extinção, bem antes do que se imaginava.
Por muito tempo se pensou que os "paleoíndios" da chamada cultura Clovis tinham sido os responsáveis por caçar e exterminar os grandes mamíferos da Era do Gelo (conhecidos como megafauna) nas Américas. E isso teria acontecido bem rapidamente.
Tanto que os antropólogos e arqueólogos usavam uma expressão germânica, "blitzkrieg", a "guerra-relâmpago" da Segunda Guerra Mundial, para descrever o processo.
Mas a costela com a ponta de lança achada no sítio de Manis, no Estado americano de Washington, perto da fronteira com o Canadá, foi agora datada em quase 14 mil anos de idade. Ou seja, é algo anterior à cultura Clovis, com início em cerca de 13 mil anos atrás, caracterizada por pontas de lança de pedra com encaixes especiais. A ponta de lança estudada pelos pesquisadores era feita não de pedra, mas de osso de outro pobre mastodonte, caçado e morto antes.
"A evidência do sítio de Manis mostra que as pessoas estavam caçando mastodontes com armas de osso antes das pontas de lança de pedra de Clovis", declarou o líder da equipe de oito pesquisadores dos EUA e da Dinamarca, Michael Waters, do Centro para o Estudo dos Primeiros Americanos, da Universidade do Texas A&M.
O fato de ser um osso incrustado em outro fez e ainda faz alguns pesquisadores duvidarem da autenticidade do achado. Poderia ser um acidente, dizem céticos. Mas essa é uma opinião rara. O pré-histórico caçador que enfiou sua lança, um belo artefato com ponta de 27 cm, deve ter xingado muito ao perdê-la -para sorte dos arqueólogos, contudo.
As evidências mostram que ele teria enfiado a lança no lado esquerdo do mastodonte, mas que, em vez de acertar algum órgão vital, acabou fazendo a lança se alojar em um osso, com certeza deixando o animal violento e alucinado. Por sorte para a tribo, outros caçadores devem ter ferido o bicho em lugares mais vitais, matando o mastodonte e recuperado a maioria de suas armas.
Mas o animal de três toneladas caiu pelo lado esquerdo e com isso impediu que a ponta de lança, que penetrou em torno de 20 cm ou 25 cm na sua pele, pudesse ser recuperada. Isso até a década de 1970, quando uma escavação encontrou o material.
Mas só agora que a equipe americana de Waters, junto com os pesquisadores dinamarqueses envolvidos na descoberta original, foram reavaliar os achados, e testá-los de modo moderno. Usaram testes de DNA do osso e da ponta de lança, datações de carbono-14 (que funcionam como relógio atômico de restos de seres vivos) e raio-X de alta resolução.
"É mais uma prova de que os seres humanos estavam presentes na América do Norte bem antes do que se acreditava. A teoria 'Clovis em primeiro lugar', que era tão adorada por muitos cientistas há poucos anos atrás, foi finalmente enterrada com as conclusões desse estudo", diz o pesquisador dinamarquês Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague. A descoberta está na edição desta semana da revista americana "Science".
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