sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Você será vacinado contra a COVID nos primeiros meses de 2021? Resposta curta: não.



Encontrei esse texto hoje e republico aqui no blogue. Vale a pena conferir.

CHEGOU A VACINA. MAS NÃO SERÁ PARA O POVO BRASILEIRO - Então, temos a primeira vacina. Tudo indica que dia 7 de dezembro o Reino Unido começará a vacinar sua população com a primeira vacina aprovada, da Pfizer-BioNTech. E agora eu vou explicar pra vocês porque o que muitos de nós, cientistas, estamos falando há meses, sobre o fato de que não podemos balizar nossas ações no Brasil na chegada de uma vacina, se torna mais real. Porque para nós, brasileiros, isso não será uma realidade próxima. E é agora que grande parte da população vai pagar por suas escolhas políticas, inclusive os que não escolheram o cenário atual. 

Pra vacinar 200 milhões de pessoas, ou o equivalente, são necessários, no mínimo, 200 milhões de agulhas e 200 milhões de seringas. Já pensaram sobre isso? Não temos essa quantidade, não temos nem metade disso. O que significa que o Ministério da Saúde e o Governo Federal deveriam estar, há meses, negociando a compra do estoque destes suprimentos. Mas não estão. A única coisa que foi feita nesse sentido foi em agosto, quando o Governo Federal manifestou interesse em comprar 80 milhões desses suprimentos, sem efetivar o negócio. Agora é a hora que precisaríamos ter inteligência sanitária, epidemiológica e científica estruturada dentro do Governo Federal, para tomar essas decisões estratégicas. E não temos, sequer temos um Ministro da Saúde.

Isso por si só já é bastante sério, mas infelizmente não é o único entrave. A vacina da Pfizer-BioNTech precisa ficar armazenada a -70 graus ou perde eficácia e estabilidade. O Brasil não tem como estocar essa quantidade de vacina nesta temperatura. Os equipamentos de armazenamento vacinal brasileiros chegam a, apenas, -20 graus Celsius. Não temos equipamento. E, sinto muito te dizer, mas o freezer que refrigera a sua mamadeira de piroca não atinge essa temperatura, não vai dar pra ser utilizado.

E como se tudo isso já não fosse grave o suficiente, tem a principal questão: a negociação política e financeira da compra de milhões de doses. Essa compra seria indiscutível para governos que se orientam por princípios científicos, epidemiológicos e sanitários coerentes. Não é o caso do governo atual. Ou vocês acham que um governo que considera uma pandemia que matou mais de 170 mil do seu próprio povo uma "gripinha" estará empenhado nesta negociação?

E como se tudo isso já não constituísse um cenário preocupante, ainda tem a questão delicada, fundamental e altamente estratégica da prioridade vacinal. Qual será a prioridade, quem será vacinado primeiro, qual será o plano de prioridade? Ou você acha que vai poder chegar no postinho a qualquer hora e fazer a sua vacinação e do seu filho? Nada está sendo feito no sentido de traçar as prioridades vacinais no Brasil. O que significa: povo sem vacina.

A conta tá chegando.
E será exorbitante.

Para termos vacina para o povo brasileiro até o fim do primeiro semestre de 2021, todas as negociações deveriam estar sendo realizadas agora. Não é só compra de vacina, como eu acabei de explicar. É muito mais. Mas o Governo Federal brasileiro tá mais preocupado em extinguir as bolsas PIBIC da área de humanas... Vejam o que fizeram com o Brasil.

Ligia Moreiras Sena. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista. Mestre em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo. Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutora em Ciências (Área: Farmacologia) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisadora das áreas de: saúde coletiva, violência e saúde, medicalização, violência obstétrica no Brasil e pesquisa qualitativa em saúde com foco nos impactos da violência sobre a saúde da mulher e da criança.

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