quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Como se tornar invisível na sociedade.

Fonte: fabricioadvocacia.blogspot.com

Todos os homens são considerados iguais, mas isso não corre de fato. Porque alguns são mais importantes que a maioria? Porque tratamos algumas pessoas com o devido respeito e outros são relegados aos últimos (e piores) postos dentro da sociedade? Acho que são pontos bons para reflexão.

O trabalhador invisível 
Pesquisa mostra a exclusão social vivida pelos garis

Durante oito anos, o psicólogo social Fernando Braga da Costa, da Universidade de São Paulo (USP), vestiu um uniforme e, com a vassoura em punho, passou a participar do trabalho da equipe de limpeza do Instituto de Psicologia da mesma instituição. A experiência resultou na dissertação Garis – Um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública, na qual defende que, com frequência, a maioria das pessoas percebe o outro de acordo com o status social de seu trabalho. 

O psicólogo optou por vestir-se de varredor de rua para vivenciar a situação psicológica desse grupo de trabalhadores. Ele notou que, de fato, essas pessoas foram tratadas como “invisíveis” por alunos, professores e outros profissionais que circularam pela universidade durante a pesquisa. “Conhecia muitas das pessoas, porém, todas passavam sem me olhar. Em determinado momento, um professor se aproximou e interrompi a varrição para cumprimentá-lo, debruçando-me sobre a vassoura. Ele não me notou. Chegou a esbarrar no meu ombro e nem sequer parou para pedir desculpas”, conta o pesquisador, ressaltando que, em outra ocasião, sem o uniforme, encontrou acidentalmente esse colega e foi notado por ele.

Segundo Costa, a invisibilidade social repercute na autoestima desses profissionais. A percepção de que são marginalizados restringe sua convivência no ambiente de trabalho aos companheiros de função. É comum que evitem o contato visual para se proteger da violência social. Outro dado levantado, nos sindicatos, é que é muito raro um gari mudar de profissão, o que sugere a exclusão associada à divisão social do trabalho. 
Fonte: revista rmente e cérebro.

Resumo (em Português) do trabalho de mestrado (2002) de  Fernando Braga:


Através de dados materiais, subjetivos e intersubjetivos, caracterizamos e discutimos um problema de Psicologia Social: a invisibilidade pública. O pesquisador conduziu-se pelo caminho da observação participante segundo o regime de uma pesquisa etnográfica, um dos procedimentos metódicos dos mais encarecidos em Psicologia Social. Tal método supôs o desempenho do oficio de gari pelo próprio pesquisador, durante seis anos e semanalmente. A invisibilidade pública é fenômeno que não pode ser suficiente e certeiramente investigado à distância do oprimido, à distância de quem vive por dentro sua ação corrosiva. Esta pesquisa inscreveu-se em dois níveis de investigação psicossocial: 1) Investigação participante de uma modalidade de trabalho não qualificado e subalterno (o trabalho de garis). Descrevemos, narramos e analisamos a operação de mecanismos sociais de reificação e subalternização no trabalho dos garis: o modo como são reprodutores e geradores de invisibilidade pública. Será reconhecível, em conteúdo e extensão, o quanto foi este o nível privilegiado de investigação nesta dissertação de mestrado. 2) Investigação participante da aproximação entre pesquisador e trabalhadores pobres. Buscamos descrever, narrar e analisar a existência de barreiras e aberturas psicossociais operantes no encontro e na comunicação entre o pesquisador e os garis. Será reconhecível, neste nível de investigação, o caráter de um exame apenas preliminar: seu desenvolvimento mais satisfatório, acompanhado de informações de campo ainda inéditas, corresponderá ao que pretendemos melhor desenvolver em regime de doutorado. Os dois níveis de investigação que discriminamos, todavia, comunicam-se: o exame do trabalho dos garis e o exame de nosso encontro com eles, como verificamos, são exames que várias vezes exigem-se e iluminam-se mutuamente; a despeito da ênfase posta sobre o primeiro exame, impossível que não antecipássemos já algo a espeito do segundo... (AU)
Link: fapesp - garis.


Mais informações:
responsabilidadesocial.com
Revista Científica da Faculdade das Américas

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