segunda-feira, 6 de outubro de 2025

O que separa você de um gênio?


A diferença entre um amador e um especialista de alto nível em qualquer esporte, arte ou atividade acadêmica não está simplesmente ligada ao talento inato, mas principalmente à dedicação e à prática deliberada ao longo do tempo. O renomado psicólogo K. Anders Ericsson revolucionou a compreensão do desenvolvimento da expertise ao apontar que o que leva alguém a se destacar são anos de prática intencional e focada — o que ele denomina "prática deliberada".

Qual a diferença entre um amador e um especialista?

A diferença entre um amador e um especialista de alto nível, seja no esporte, na música ou em uma atividade acadêmica, muitas vezes parece ser um abismo intransponível. Muitos atribuem isso a um talento inato ou a um dom natural, mas os estudos de K. Anders Ericsson, psicólogo sueco conhecido por sua pesquisa sobre excelência humana, desafiam essa visão. Para Ericsson, o que separa você de um gênio não é apenas uma predisposição genética, mas sim a dedicação, o tempo investido e, acima de tudo, a prática deliberada — um processo estruturado de aprendizado contínuo com o objetivo de melhorar constantemente.

Ericsson introduziu o conceito de prática deliberada, que vai além da simples repetição de uma tarefa. Trata-se de um esforço intencional, focado em corrigir erros, buscar feedback e desafiar os limites atuais de habilidade. Em seu trabalho seminal, publicado em 1993 com o estudo sobre violinistas da Academia de Música de Berlim, Ericsson demonstrou que os músicos de elite haviam praticado significativamente mais horas ao longo de suas vidas — cerca de 10 mil horas até a idade adulta — em comparação com seus pares menos habilidosos. 

No contexto de um esporte ou atividade acadêmica, essa diferença fica clara. Um amador pode jogar futebol ou resolver equações por prazer, mas um especialista de alto nível, como um atleta olímpico ou um matemático renomado, estrutura seu tempo para treinar técnicas específicas, analisar desempenho e ajustar estratégias. Por exemplo, um nadador de elite não apenas nada por horas; ele trabalha com treinadores para aperfeiçoar cada braçada, usando dados de vídeo e sensores para identificar fraquezas. Da mesma forma, um pesquisador de ponta revisa constantemente sua metodologia, busca mentores e testa hipóteses sob pressão. Essa disciplina deliberada transforma o potencial em maestria.

Mito das 10 mil horas

Popularizado pelo jornalista Malcolm Gladwell em seu livro Outliers (ver aqui), o conceito das "10.000 horas" baseia-se no trabalho de Ericsson, mas é uma simplificação excessiva. Ericsson mesmo reafirma que o número por si só não garante a genialidade, sendo a qualidade e a natureza da prática determinantes para a maestria.

O que separa você de um gênio?

A resposta é simples e desafiante: o compromisso com uma prática dedicada, com foco em melhorar suas fraquezas, o acompanhamento por um mentor experiente e a manutenção dessa disciplina por longos períodos. Não se trata apenas de talento, mas de trabalho inteligente e persistente.

O que, então, separa você de um gênio? A resposta está na escolha consciente de investir tempo e esforço de maneira estratégica. Ericsson argumenta que a genialidade não é um dom fixo, mas um estado alcançável por meio de trabalho árduo e adaptação. Estudos de caso, como o do enxadrista Magnus Carlsen, mostram como anos de prática deliberada, começando na infância, moldaram sua capacidade de visualizar movimentos complexos. No entanto, isso não significa que qualquer pessoa se torne um gênio sem talento inicial. Ericsson reconhece que fatores inatos, como coordenação motora ou memória, podem dar uma vantagem inicial, mas sem prática consistente, esse potencial permanece adormecido.

O desafio reside em superar a zona de conforto. A prática deliberada é exaustiva — exige foco, paciência e resiliência para lidar com falhas. Muitos desistem ao enfrentar obstáculos, enquanto os gênios persistem, ajustando-se e aprendendo com cada tentativa. Para se aproximar desse nível, é preciso estabelecer metas claras, buscar feedback qualificado e dedicar horas regulares a um aprimoramento intencional. Não é uma questão de sorte, mas de compromisso.

Conclusão

Em última análise, o que separa você de um gênio é a decisão de transformar esforço em hábito e hábito em excelência. Com base nos ensinamentos de Ericsson, o caminho para a genialidade está ao alcance de quem está disposto a pagar o preço da prática deliberada. A pergunta não é se você tem o talento, mas se você está pronto para construí-lo.

Segundo Ericsson, prática deliberada é uma atividade estruturada especificamente para melhorar o desempenho atual. Ela foca em superar fraquezas, requer esforço intenso, reflexão contínua e feedback constante, frequentemente sob a orientação de um especialista ou treinador. Não é simplesmente repetir uma tarefa, mas praticar com objetivo claro de aprimoramento — o que pode ser cansativo e nem sempre prazeroso.

Os resultados de Ericsson e colegas indicam que habilidades extraordinárias são desenvolvidas, não herdadas em sua totalidade. Embora algumas características físicas possam influenciar certos esportes, as diferenças de performance entre especialistas são explicadas mais pela quantidade e qualidade da prática sustentada.

Assim, tornar-se um "gênio" — ou especialista em qualquer área — é uma jornada possível, acessível para quem busca transcender o comum por meio do esforço planejado e deliberado.


Referências

  • Ericsson, K. A., Krampe, R. T., & Tesch-Römer, C. (1993). The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review, 100(3), 363–406.
  • Hambrick, D. Z., & Meinz, E. J. (2011). Limits on the predictive power of domain-specific experience and deliberate practice for becoming an expert. Psychological Science, 22(10), 1368–1374.
  • Ysamphy. (2024). Anders Ericsson’s Deliberate Practice is an approach to improving performance and attaining expert performance. Recuperado de https://ysamphy.com/anders-ericsson-deliberate-practice/
  • Muthukumarasamy, K. B. (2020). What 's different about a person called “genius”? Recuperado de https://www.linkedin.com/pulse/what-different-person-called-genius-kbmuthukumara-saami
  • Macnamara, B. N., Hambrick, D. Z., & Oswald, F. L. (2014). Deliberate practice and performance in music, games, sports, education, and professions: A meta-analysis. Psychological Science, 25(8), 1608–1618.
* Esta postagem foi realizada com o auxílio da IA Generativa. Postagens antigas sobre esse tema aqui e aqui.

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