quinta-feira, 5 de abril de 2012

Literatura - "Memórias de Adriano".

Busto de Adriano, fonte: pt.wikipedia.org

Li recentemente o livro "Memórias de Adriano", imperador romano que sucedeu Trajano e foi contemporâneo dos primeiros cristãos no século II. Essas memórias não são, de fato, do próprio Adriano, mas o resultado da pesquisa e trabalho de mais de 25 anos da escritora de origem belga Marguerite Yourcenar. Mais de uma vez ela quase desistiu do projeto ("Mergulho no desespero de um escritor que não escreve."), mas o livro veio à luz em 1951 e trouxe reconhecimento internacional a Marguerite. Para saber mais sobre o livro e a autora: wiki/Marguerite_Yourcenar.

Sem dúvida, o livro é muito bem escrito, selecionei alguns trechos que mais me chamaram a atenção:


Animula Vagula Blandula

  • É difícil permanecer imperador na presença do médico e mais difícil permanecer homem.
  • Ainda não atingi a idade em que a vida para cada homem é uma derrota consumada.
  • A verdade que pretendo narrar aqui não é particularmente escandalosa, ou melhor, não o é senão na medida que toda verdade escandaliza.


Varius Multiplex Multiformis

  • O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos: minhas primeiras pátrias foram os livros.
  • O maior sedutor não é, afinal, Alcibíades e, sim, Sócrates.
  • A honestidade política ganhava a partida com a ajuda de estratagemas bastante ambíguos.
  • Nosso grande erro é tentar encontrar em cada um, em particular, as virtudes que ele não tem, negligenciando o cultivo daquelas que ele possui.
  • Compreendi então que pouquíssimos homens se realizam antes de morrer e aprendi a julgar com mais piedade seus trabalhos interrompidos.


Tellus Stabilita

  • A paz era a minha meta, mas não absolutamente meu ídolo; a própria palavra Ideal me desagradaria por estar muito afastada da realidade.
  • A moral  é uma convenção privada; a decência, um assunto público; toda permissividade muito visível sempre me pareceu uma exibição de mau gosto.
  • Toda lei muitas vezes transgredida é má; cabe ao legislador revogá-la ou substituí-la antes que o desprezo por uma disposição insensata não se estenda a outras leis mais justas.
  • Demasiadas vezes a paz não é para o exército senão um período de ociosidade turbulenta entre dois combates.


Saeculum Aureum

  • O hábito nos teria teria conduzido ao fim sem glória, mas sem desastre, que a vida oferece a todos que aceitam seu lento enfraquecimento pela saciedade.
  • Não sabia ainda que a dor contém em si estranhos labirintos, através dos quais eu não terminara minha longa caminhada.
  • A memória da maior parte dos homens é um cemitério abandonado, onde jazem, sem honras, os mortos que eles deixaram de amar. Toda dor prolongada é um insulto ao seu esquecimento.


Disciplina Augusta

  • Era possível que o céu nos impusesse suas determinações e que os melhores entre nós as ouvissem lá onde os outros homens só percebem um silêncio esmagador?
  • Como o iniciado mitríaco, a raça humana tem talvez necessidade do banho de sangue e da passagem periódica pelos poços fúnebres.
  • O abrandamento dos costumes, o avanço das ideias no decorrer do último século são obra de uma minoria de bons espíritos; a massa continua ignara, feroz quando pode, em todo caso egoísta e limitada, e há razões para apostar que permanecerá sempre assim.
  • A idade jamais me pareceu uma desculpa para a malignidade humana; nela verei antes uma circunstância agravante.


Patientia

  • [Arriano] Sabe igualmente que a passagem do tempo não faz senão adicionar uma vertigem a mais à desgraça.
  • Mas a solicitude dos meus amigos equivale a uma constante vigilância; todo doente é um prisioneiro.
  • Não me diferencio dos mortos senão pela faculdade de me sufocar por alguns momentos mais.
  • O viajante encerrado dentro do enfermo para sempre sedentário, interssa-se pela morte porque ela representa uma partida.

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