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Vamos começar com uma definição curta (do dicionário):
comunismo - SUBSTANTIVO -
- organização socioeconômica baseada na propriedade coletiva dos meios de produção;
- doutrina econômica e política que preconiza tal organização;
- qualquer regime de governo fundado nessa doutrina, ex: "o comunismo da ex-União Soviética";
- doutrina e política dos partidos comunistas.
Uma definição bem mais completa (Nicola Abbagnano (1901 - 1990) - Dicionário de Filosofia, 5a. ed. - São Paulo: Martins Fontes, 200):
COMUNISMO (in. Communism - fr. Communisme, ai. Kommunismus; it. Comunismo).
Ideologia política que tem como programa o Manifesto Comunista publicado por Marx e Engels em 1847, desenvolvido nas obras de Marx e Engels, bem como de Lênin e Stálin. Tal ideologia pode ser resumida nos seguintes pontos fundamentais:
- 1) a personalidade humana depende da sociedade historicamente determinada a que pertence, e nada é fora e independentemente da própria sociedade;
- 2) a estrutura de uma sociedade historicamente determinada depende das relações de produção e de trabalho próprias dessa sociedade, que determinam todas as suas manifestações: moralidade, religião, filosofia, etc, além das formas de sua organização política. Esses dois pontos constituem a doutrina do materialismo histórico (v.);
- 3) a luta de classes tem caráter permanente e necessário em toda e qualquer sociedade capitalista, isto é, em qualquer sociedade cujos meios de produção sejam propriedade privada;
- 4) depois de alcançar o ponto máximo de concentração de riqueza em poucas mãos e de empobrecimento e nivelamento de todos os trabalhadores, a sociedade capitalista passa, necessária e inevitavelmente, para a sociedade socialista, que possui e exerce diretamente os meios de produção e é, por isso, sem classes;
- 5) existe um período de transição entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista, durante o qual o proletariado assumirá o poder e o exercerá, assim como os capitalistas fizeram, em seu próprio proveito. Esse será o período da ditadura do proletariado.
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Bom, dada essas definições, vejamos uma história de "caça aos comunistas infiltrados" que ocorreu nos EUA nos anos 1950:
Em 1952, a histeria anti-comunista tomou conta dos EUA. Era a segunda vez que isto acontecia. O alvo eram os professores. No final do seu mandato, Truman passou lei dizendo que comunistas não poderiam ser professores. Apenas o sindicato reagiu. Mais de 1500 professores em todo o país foram demitidos. Na maioria dos lugares, bastava a palavra do diretor ou de alguém da comunidade para caracterizar o docente como comunista. Em NY, o sindicato resolveu resistir e exigiu processos com direito de defesa. Dois casos impressionam. Uma professora, de origem judaica, acusada de comunismo, foi descrita por seu diretor como "tendo uma imensa capacidade de ensinar o marxismo-leninismo com bloquinhos de madeira com letras". Ela era alfabetizadora. E começou a receber cartas da comunidade com os dizeres "comunismo é judeu e judeus não são bons americanos" ou "hitler estava certo!". Quando recebeu o veredicto, a professora se suicidou. O comitê investigativo usou o suicídio como prova da culpa e da competência das investigações. Outro caso, outra professora, desta vez trabalhava no Harlem. A comunidade negra se mobilizou em sua defesa. Testemunhos diziam que nenhum professor tinha o cuidado e a paciência de Bella Dodd para ensinar as crianças negras. O comitê usou isto como prova de que ela era comunista. Entre as "provas" tinha o depoimento de um carteiro informando que via seguidamente Bella nas áreas mais pobres do Harlem "perguntando por e ajudando crianças, inclusive doando roupas no inverno". O carteiro completou dizendo que achava isto "bem comunista".
Nos anos 50 a CIA, em memorandos internos, reclamava que o custo para infiltrar agentes no mundo soviético era muito alto e que todos eles eram descobertos e mortos. Entretanto, o comunismo exercia "uma papel mágico no encantamento dos americanos, sobretudo os mais bem formados". Segundo a CIA "todo professor é um espião soviético em potencial" e "quanto mais estudado mais vulnerável". Professores com doutorado eram quase certamente espiões.
Não é a primeira vez que a burrice e a ignorância torcem os discursos para se fazerem superiores. Nos EUA, consciência social e trabalho pelos mais pobres era prova de "comunismo" e os mais bem formados inclinarem-se pelo comunismo não era prova da correção ou mesmo de viabilidade destas ideias, mas a demonstração da "mágica" comunista e um argumento contra a ciência e os intelectuais. Todo regime de ignorantes ataca essencialmente professores, universidades, as artes e a história. Atacam irracionalmente e usam a irracionalidade como argumento de defesa contra a ciência e a lógica. Estamos vendo tudo isto de novo.
- Fernando Horta (@professorfernandohorta)
Veja também uma reportagem sobre esse tema - Medo do comunismo nos EUA: os professores perseguidos e demitidos nos anos 50 sob a suspeita de serem 'vermelhos' por Amanda Rossi, da BBC News Brasil em São Paulo, de 10 dezembro 2018. Link aqui.
Bom, depois disso tudo. Refaço a pergunta: você é comunista? Quem lhe chama de comunista tem uma noção do que seja comunismo? Será que você só quer um mundo um pouco menos injusto, que a educação seja de boa qualidade e para todos?
Um bom apanhado de referências professor! E é isso, todo dia uma ação mínima de cuidado com o outro repudiada pelos ignorantes, sobretudo pela "alcunha" de comunismo :(
ResponderExcluirGrato pelo seu comentário Anderson
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