Estudantes em todo o Brasil protestaram contra os cortes nas bolsas e na Educação. Fonte aqui. |
A maior parte da pesquisa no Brasil é realizada em instituições públicas. Existe pesquisa em Universidades particulares, mas, em parte, também recebem financiamento público. Existem parcerias entre empresas e Universidades públicas? Existem, mas elas cobrem poucas áreas, em geral, ligadas às engenharias. Empresas privadas raramente financiam a pesquisa básica*.
Por esse motivo, o anúncio dos cortes nas bolsas de pesquisa pelo governo federal é tão grave. A pesquisa no Brasil é muito dependente dessas bolsas. É muito difícil manter um programa de mestrado ou doutorado sem estudantes com dedicação exclusiva, mesmo as bolsas estando muito defasadas - desde 2008 que elas não têm reajuste. Como diz o astrônomo Cássio Barbosa**:
Não tenho como não falar sobre os últimos anúncios de cortes de verbas em educação e pesquisa, que simplesmente põem fim à praticamente toda pesquisa brasileira. O corte severo de recursos vai interromper pesquisas importantes, como também vai abreviar a carreira de jovens pesquisadores, produzindo uma lacuna difícil de se preencher no futuro. Fonte aqui.Já é muito difícil conseguir atrair bons estudantes para serem pesquisadores. Quase qualquer emprego para quem é já tem curso superior paga mais que uma bolsa de mestrado. E uma bolsa de pesquisa não é salário, não dá direito a férias ou 13o., nem conta para a aposentadoria. Sem essas bolsas e com os cortes anunciados, corremos o grave risco de paralisar o desenvolvimento da ciência no Brasil.
O efeito desses cortes serão mais sentidos a médio e longo prazo. Ficaremos cada vez mais dependentes das tecnologias desenvolvidas fora do Brasil, inclusive aqueles com a participação de brasileiros que estudam e trabalham fora do Brasil. A curto prazo, carreiras promissoras serão precocemente encerradas, pelo menos aqui no Brasil. Vamos exportar cada vez mais "cérebros". Isso, definitivamente, não é nem um pouco inteligente.
* Uma definição de "pesquisa básica": objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais. O que é "pesquisa básica" hoje, pode se tornar pesquisa aplicada ou uma tecnologia anos depois. Por exemplo, o estudo da eletricidade já foi pesquisa básica e hoje vivemos em um mundo ligado à energia elétrica.
** Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - Possui graduação em Física pela Universidade de São Paulo (1997), mestrado em Astrofísica pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2000) e doutorado em Astronomia pela Universidade de São Paulo (2004). Foi professor integral da Universidade do Vale do Paraíba entre 2005 e 2014. Tem experiência na área de Astronomia, com ênfase em Astrofísica Estelar, atuando principalmente nos seguintes temas: estrelas massivas, infravermelho próximo, formação estelar, estrelas e instrumentação. Atua na área de formação de professores de ensino médio e fundamental, nas áreas de Física, Matemática, Química e Biologia e coordenou o Observatório de Astronomia e Física Espacial da UNIVAP. Atualmente é professor adjunto no Centro Universitário da FEI. Tem um blog/coluna no "g1.com.br" - Lattes aqui.
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