Co-autoria e outros pontos relevantes na redação de um artigo científico.
Francisco J. A. de Aquino, prof. IFCE - Campus Fortaleza.
Resumo: Nesta postagem em forma de artigo, apresentamos e explicamos algumas das formas mais comuns de erros que jovens pesquisadores ou bolsistas de iniciação científica cometem na escrita de seus artigos. Essas observações são focadas principalmente nos institutos federais, mas podem ser alguma utilidade para universidades e centros de pesquisa. Essa postagem não pretende substituir a função do orientador, pelo contrário, um dos objetivos é destacar o papel do orientador sobre o trabalho do orientado.
Introdução
Nos últimos anos a produção acadêmica dos institutos federais cresceu de forma acentuada, seguindo o crescimento de toda a rede federal de ensino, basta ver os números de artigos publicados nos CONNEPI's (*). Essa produção, entretanto, ainda precisa amadurecer e se aprofundar mais. Estamos em uma fase de consolidação da pesquisa e é natural que ela tenha esse padrão.
Mesmo sendo "natural" que o padrão de pesquisa seja esse (imaturidade, relativamente superficial), não podemos ficar acomodados e devemos traçar metas claras para que a importância das publicações tenha um ganho de qualidade nos próximos anos. Esse processo de apropriação e geração de conhecimento é um papel institucional, mas uma parte cabe aos orientadores e demais pesquisadores envolvidos.
O foco desse artigo, contudo, são alguns erros "simples" cometidos pelos autores dos artigos, na sua grande maioria alunos de graduação, ou mesmo do ensino médio (bolsistas PIBIC-Jr.), ao se aventurarem na escrita de seus primeiros artigos.
(*) O CONNEPI tem periodicidade anual, sendo suas edições anteriores realizadas nos seguintes estados: I CONNEPI (2006) - Rio Grande do Norte (CEFET-RN); II CONNEPI (2007) - Paraíba (CEFET-PB); III CONNEPI (2008) - Ceará (CEFET-CE); IV CONNEPI (2009) - Pará (IFPA); V CONNEPI (2010) - Alagoas (IFAL); VI CONNEPI (2011) - Rio Grande do Norte (IFRN e IFS). Em 2012, o CONNEPI foi realizado em Tocantins (IFTO) e em 2013 será em Salvador (BA). Em 2012 foram mais de 2500 trabalhos aceitos, já em 2013 foram mais de 3600 artigos.
Revisão da literatura
Como esta é uma "postagem" e não um "artigo científico" sobre o tema, não será realizada uma revisão da literatura exaustiva sobre esse assunto, mas podemos indicar:
- Erros em artigos científicos brasileiros são mais conceituais do que de expressão -
Alisson;
- Critérios de autoria e co-autoria em trabalhos científicos - Montenegro e Ferreira Alves;
- Quem deve ser incluído na lista de autores de um artigo científico? - Yukihara;
- Aspectos Éticos, Legais e Morais Relacionados à Autoria na Produção Científica - Goldim;
- Cresce número de artigos científicos 'despublicados' por fraude ou erro - Lopes;
- A Impotância do uso de critérios objetivos para autoria de artigos científicos - Bussato Filho;
Obs: em um artigo científico, esse seria um erro "
óbvio" - não realizar uma revisão crítica e adequada da literatura existente.
Erros mais comuns
Os erros mais comuns que infernizam a vida dos jovens (e não tão jovens) pesquisadores são: revisão incompleta ou inadequada da literatura, plágio não intencional, falta de uma revisão rigorosa do artigo final, co-autoria indevida e erros metodológicos.
Dificilmente sua ideia é completamente original, inédita, nunca pensada antes. É triste, mas a verdade é que provavelmente alguém já pensou no mesmo tema que você está pesquisando e talvez já tenha até mesmo publicado vários artigos. É sua obrigação investigar o que já foi publicado sobre o seu tema. Com a internet e os as publicações disponíveis on-line, essa busca está muito mais fácil que a 20, 30 anos. Logo, antes de pensar em ganhar um prêmio Nobel com a sua "nova" ideia brilhante, veja se alguém já publicou. Note: não ser o primeiro não significa que o terreno já esteja totalmente desbravado e nada útil possa ser descoberto.
Se você revisou a literatura, então a próxima "
armadilha" é fazer um plágio não intencional. Se você está usando alguma figura, tabela, gráfico ou outra informação de algum outro autor, os créditos devidos devem ser explicitados claramente. É fundamental dizer de onde veio a tal figura, tabela, gráfico ou ideia. Não citar a fonte original é plágio. Se o revisor suspeitar de algum plágio, seu artigo vai ser recusado. Os méritos que ele pode ter não serão suficientes para evitar a rejeição.
Muito bem, os dois itens acima estão sob controle. Seu artigo tem uma boa revisão da literatura disponível, os créditos aos autores que você pesquisou estão todos lá indicados, então o próximo passo é conferir se o seu artigo está bem escrito e organizado como manda o figurino. Você não precisa ser um escritor como Machado de Assis, mas seu texto tem que ser claro, objetivo, agradável e fácil de ler. Confira se as figuras estão todas lá e na ordem certa, veja se alguma frase ficou pela metade. Para isso, imprima o texto (nesse momento você terá que ser anti-ecológico), leia e peça para seu orientador ler. Ao fim da leitura, corrija todos os erros e repita o processo (sempre em papel!). Quando achar que está ok, pode submeter o seu artigo. Ou não. Podem faltar ainda alguns detalhes.
A questão da co-autoria. Só pode ser co-autor quem efetivamente colaborou em algum momento na escrita ou na obtenção dos resultados do artigo. O orientador, mesmo quando quando a participação é pequena (ele pode ter apenas sugerido o tema de pesquisa), tem o direito de ser co-autor, mas ele precisa fazer pelo menos a revisão final do artigo. Esse ponto é bem mais aprofundado
aqui e
aqui.
Finalmente, seu artigo pode conter algum erro ou falha metodológica. Isso só pode ser detectado por um pesquisador mais experiente. Evite conclusões tendo por base poucos fatos, refaça os experimentos, se existirem discordâncias com a literatura tente justificar o que está ocorrendo.
Sanados todos esses percalços, seu artigo está pronto para ser submetido e, possivelmente, aceito. Parabéns!
Obs: nem sempre um bom artigo é aceito, especialmente em eventos, um revisor de mau humor pode ver apenas as fraquezas do artigo e ignorar a sua contribuição.
Conclusões
Escrever é uma tarefa árdua. Não é fácil ou trivial escrever um bom artigo científico. Muita leitura e esforço pessoal para dominar determinado tema são necessários. E muitas armadilhas estão espalhadas pelo caminho. Saber driblar essas armadilhas e obter um bom resultado final é uma tarefa que exige tempo e dedicação. É um trabalho de equipe, no mínimo você e o seu orientador devem trabalhar em sintonia. Evitar os erros mais grosseiros é necessário, a penalidade é a rejeição e a frustração de ver o seu artigo rejeitado.
Agradecimentos
Sem citar nomes, quero agradecer a meus bolsistas e ex-bolsistas de IC, e alguns alunos da graduação (principalmente da Eng. de Telecomunicações do IFCE) que, direta ou indiretamente, contribuíram para algumas ideias ou material aqui apresentados. Claro que essa postagem também não seria possível se eu não estivesse inserido em um contexto de pesquisa propiciado pelo IFCE - Campus Fortaleza - Departamento de Telemática.
Referências