domingo, 29 de março de 2020

Yuval Noah Harari: o mundo após o coronavírus (Yuval Noah Harari: the world after coronavirus)


Yuval Noah Harari: o mundo após o coronavírus 
(Tradução)

Breve biografia. Yuval Noah Harari (Haifa, 24 de Fevereiro de 1976) é um professor israelense de História e autor do best-seller internacional Sapiens: Uma breve história da humanidade e também de Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã. Seu último lançamento é 21 Lições para o Século 21. Leciona no departamento de História da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Atualmente, é especializado em História mundial e processos da macro-história. Sua pesquisa se concentra em questões da macro-história, tais como: Qual a relação entre a História e a Biologia? Qual a diferença fundamental entre o Homo sapiens e outros animais? Existe justiça na História? A História tem uma direção? Será que as pessoas se tornaram mais felizes com o passar do tempo?

A humanidade agora está enfrentando uma crise global. Talvez a maior crise da nossa geração. As decisões tomadas pelas pessoas e pelos governos nas próximas semanas provavelmente moldarão o mundo nos próximos anos. Eles moldarão não apenas nossos sistemas de saúde, mas também nossa economia, política e cultura. Devemos agir de forma rápida e decisiva. Também devemos levar em consideração as consequências a longo prazo de nossas ações. Ao escolher entre alternativas, devemos nos perguntar não apenas como superar a ameaça imediata, mas também que tipo de mundo habitaremos quando a tempestade passar. Sim, a tempestade passará, a humanidade sobreviverá, a maioria de nós ainda estará viva - mas habitaremos um mundo diferente. 

Muitas medidas de emergência de curto prazo se tornarão um elemento da vida. Essa é a natureza das emergências. Eles avançam rapidamente nos processos históricos. As decisões que em tempos normais podem levar anos de deliberação são aprovadas em questão de horas. Tecnologias imaturas e até perigosas são colocadas em serviço, porque os riscos de não fazer nada são maiores. Países inteiros servem como cobaias em experimentos sociais em larga escala. O que acontece quando todos trabalham em casa e se comunicam apenas à distância? O que acontece quando escolas e universidades inteiras ficam online? Em tempos normais, governos, empresas e conselhos educacionais nunca concordariam em realizar tais experimentos. Mas estes não são tempos normais.

Neste momento de crise, enfrentamos duas escolhas particularmente importantes. O primeiro é entre vigilância totalitária e empoderamento do cidadão. O segundo é entre isolamento nacionalista e solidariedade global. 

Vigilância sob a pele 
Para interromper a epidemia, populações inteiras precisam obedecer a certas diretrizes. Existem duas maneiras principais de conseguir isso. Um método é o governo monitorar as pessoas e punir aqueles que violarem as regras. Hoje, pela primeira vez na história da humanidade, a tecnologia torna possível monitorar todos o tempo todo. Cinquenta anos atrás, a KGB não podia seguir 240 milhões de cidadãos soviéticos 24 horas por dia, nem poderia esperar processar efetivamente todas as informações coletadas. A KGB contava com agentes humanos e analistas, e simplesmente não podia colocar um agente humano para seguir todos os cidadãos. Mas agora os governos podem confiar em sensores onipresentes e algoritmos poderosos, em vez de fantasmas de carne e osso. 

Em sua batalha contra a epidemia de coronavírus, vários governos já implantaram as novas ferramentas de vigilância. O caso mais notável é a China. Ao monitorar de perto os smartphones das pessoas, usar centenas de milhões de câmeras que reconhecem o rosto e obrigar as pessoas a verificar e relatar sua temperatura corporal e condição médica, as autoridades chinesas podem não apenas identificar rapidamente os portadores suspeitos de coronavírus, mas também rastrear seus movimentos e movimentos. identificar qualquer pessoa com quem eles entraram em contato. Uma variedade de aplicativos móveis avisa os cidadãos sobre sua proximidade com pacientes infectados.
Esse tipo de tecnologia não se limita ao leste da Ásia. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de Israel, autorizou recentemente a Agência de Segurança de Israel a implantar a tecnologia de vigilância normalmente reservada aos terroristas em combate para rastrear pacientes com coronavírus. Quando o subcomitê parlamentar relevante se recusou a autorizar a medida, Netanyahu a aplaudiu com um "decreto de emergência". 

Você pode argumentar que não há nada de novo nisso tudo. Nos últimos anos, governos e empresas vêm usando tecnologias cada vez mais sofisticadas para rastrear, monitorar e manipular pessoas. No entanto, se não tomarmos cuidado, a epidemia pode, no entanto, marcar um importante divisor de águas na história da vigilância. Não apenas porque pode normalizar a implantação de ferramentas de vigilância em massa nos países que até agora as rejeitaram, mas ainda mais porque significa uma transição dramática da vigilância "sobre a pele" para "sob a pele".

Até então, quando seu dedo tocou a tela do seu smartphone e clicou em um link, o governo queria saber exatamente o que seu dedo estava clicando. Mas com o coronavírus, o foco do interesse muda. Agora o governo quer saber a temperatura do seu dedo e a pressão sanguínea sob a pele.

O pudim de emergência
Um dos problemas que enfrentamos ao trabalhar onde estamos vigiando é que nenhum de nós sabe exatamente como estamos sendo vigiados e o que os próximos anos podem trazer. A tecnologia de vigilância está se desenvolvendo a uma velocidade vertiginosa, e o que parecia ficção científica há 10 anos é hoje uma notícia antiga. Como um experimento mental, considere um governo hipotético que exija que todo cidadão use uma pulseira biométrica que monitore a temperatura do corpo e a freqüência cardíaca 24 horas por dia. Os dados resultantes são acumulados e analisados ​​por algoritmos governamentais. Os algoritmos saberão que você está doente mesmo antes de conhecê-lo e também saberão onde você esteve e quem conheceu. As cadeias de infecção podem ser drasticamente encurtadas e até cortadas por completo. É possível que esse sistema possa parar a epidemia em questão de dias. Parece maravilhoso, certo? 


A desvantagem é, obviamente, que isso daria legitimidade a um novo e aterrador sistema de vigilância. Se você sabe, por exemplo, que cliquei no link da Fox News em vez do link da CNN, isso pode lhe ensinar algo sobre minhas opiniões políticas e talvez até sobre minha personalidade. Mas se você puder monitorar o que acontece com a temperatura do meu corpo, a pressão sanguínea e o batimento cardíaco enquanto assisto ao vídeo, você pode aprender o que me faz rir, o que me faz chorar e o que me deixa muito, muito zangado. 

É crucial lembrar que raiva, alegria, tédio e amor são fenômenos biológicos, como febre e tosse. A mesma tecnologia que identifica tosse também pode identificar risos. Se as empresas e os governos começarem a coletar nossos dados biométricos em massa, eles podem nos conhecer muito melhor do que nós mesmos, e podem não apenas prever nossos sentimentos, mas também manipular nossos sentimentos e vender-nos o que quiserem - seja um produto ou um político. O monitoramento biométrico faria as táticas de hackers de dados da Cambridge Analytica parecerem algo da Idade da Pedra. Imagine a Coréia do Norte em 2030, quando todo cidadão deve usar uma pulseira biométrica 24 horas por dia. Se você ouvir um discurso do Grande Líder e a pulseira captar os sinais reveladores de raiva, você estará pronto.

Você poderia, é claro, defender a vigilância biométrica como uma medida temporária tomada durante um estado de emergência. Ele desapareceria assim que a emergência terminasse. Porém, medidas temporárias têm o hábito desagradável de superar as emergências, especialmente porque sempre há uma nova emergência à espreita no horizonte. Meu país natal, Israel, por exemplo, declarou estado de emergência durante a Guerra da Independência de 1948, que justificava uma série de medidas temporárias, desde censura à imprensa e confisco de terras a regulamentos especiais para fazer pudim (não estou brincando). A Guerra da Independência já foi vencida há muito tempo, mas Israel nunca declarou a emergência terminada e falhou em abolir muitas das medidas "temporárias" de 1948 (o decreto de pudim de emergência foi misericordiosamente abolido em 2011).
Mesmo quando as infecções por coronavírus estão abaixo de zero, alguns governos com fome de dados podem argumentar que precisavam manter os sistemas de vigilância biométrica no local porque temem uma segunda onda de coronavírus ou porque existe uma nova cepa de Ebola em evolução na África central, ou Porque . . . Você entendeu a ideia. Uma grande batalha tem acontecido nos últimos anos por causa da nossa privacidade. A crise do coronavírus pode ser o ponto de inflexão da batalha. Pois quando as pessoas podem escolher entre privacidade e saúde, geralmente escolhem a saúde.

A polícia de sabão
Pedir às pessoas que escolham entre privacidade e saúde é, de fato, a própria raiz do problema. Porque esta é uma escolha falsa. Podemos e devemos desfrutar de privacidade e saúde. Podemos optar por proteger nossa saúde e impedir a epidemia de coronavírus, não instituindo regimes totalitários de vigilância, mas capacitando os cidadãos. Nas últimas semanas, alguns dos esforços mais bem-sucedidos para conter a epidemia de coronavírus foram orquestrados pela Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura. Embora esses países tenham feito uso de aplicativos de rastreamento, eles confiaram muito mais em testes extensivos, em relatórios honestos e na cooperação voluntária de um público bem informado. 

Monitoramento centralizado e punições severas não são a única maneira de fazer as pessoas cumprirem diretrizes benéficas. Quando as pessoas são informadas dos fatos científicos e quando as pessoas confiam nas autoridades públicas para lhes contar esses fatos, os cidadãos podem fazer a coisa certa, mesmo sem um Big Brother vigiando seus ombros. Uma população motivada e bem informada é geralmente muito mais poderosa e eficaz do que uma população ignorada e policiada.
Considere, por exemplo, lavar as mãos com sabão. Este foi um dos maiores avanços de todos os tempos na higiene humana. Essa ação simples salva milhões de vidas todos os anos. Embora tomemos como certo, foi apenas no século 19 que os cientistas descobriram a importância de lavar as mãos com sabão. Anteriormente, mesmo médicos e enfermeiros passavam de uma operação cirúrgica para outra sem lavar as mãos. Hoje, bilhões de pessoas diariamente lavam as mãos, não porque têm medo da polícia, mas porque entendem os fatos. Lavo minhas mãos com sabão porque ouvi falar de vírus e bactérias, entendo que esses pequenos organismos causam doenças e sei que o sabão pode removê-las.


Mas, para atingir esse nível de conformidade e cooperação, você precisa de confiança. As pessoas precisam confiar na ciência, nas autoridades públicas e na mídia. Nos últimos anos, políticos irresponsáveis ​​minaram deliberadamente a confiança na ciência, nas autoridades públicas e na mídia. Agora, esses mesmos políticos irresponsáveis ​​podem ficar tentados a seguir o caminho do autoritarismo, argumentando que você simplesmente não pode confiar no público para fazer a coisa certa.

Normalmente, a confiança que foi corroída por anos não pode ser reconstruída da noite para o dia. Mas estes não são tempos normais. Em um momento de crise, as mentes também podem mudar rapidamente. Você pode ter discussões amargas com seus irmãos por anos, mas quando ocorre uma emergência, você descobre subitamente um reservatório oculto de confiança e amizade e se apressa para ajudar um ao outro. Em vez de construir um regime de vigilância, não é tarde demais para restabelecer a confiança das pessoas na ciência, nas autoridades públicas e na mídia. Definitivamente, também devemos fazer uso de novas tecnologias, mas essas tecnologias devem capacitar os cidadãos. Sou totalmente a favor de monitorar a temperatura corporal e a pressão sanguínea, mas esses dados não devem ser usados ​​para criar um governo todo-poderoso. Em vez disso, esses dados devem permitir que eu faça escolhas pessoais mais informadas e também responsabilize o governo por suas decisões. 

Se eu pudesse rastrear minha própria condição médica 24 horas por dia, aprenderia não apenas se me tornei um risco à saúde de outras pessoas, mas também quais hábitos contribuem para minha saúde. E se eu pudesse acessar e analisar estatísticas confiáveis ​​sobre a disseminação do coronavírus, seria capaz de julgar se o governo está me dizendo a verdade e se está adotando as políticas corretas para combater a epidemia. Sempre que as pessoas falam sobre vigilância, lembre-se de que a mesma tecnologia de vigilância geralmente pode ser usada não apenas pelos governos para monitorar indivíduos - mas também por indivíduos para monitorar governos. 

A epidemia de coronavírus é, portanto, um grande teste de cidadania. Nos próximos dias, cada um de nós deve optar por confiar em dados científicos e especialistas em saúde em detrimento de teorias infundadas da conspiração e de políticos que servem a si mesmos. Se não fizermos a escolha certa, poderemos encontrar nossas mais preciosas liberdades, pensando que essa é a única maneira de proteger nossa saúde.

Precisamos de um plano global
A segunda escolha importante que enfrentamos é entre isolamento nacionalista e solidariedade global. Tanto a epidemia em si quanto a crise econômica resultante são problemas globais. Eles podem ser resolvidos efetivamente apenas pela cooperação global.


Em primeiro lugar, para derrotar o vírus, precisamos compartilhar informações globalmente. Essa é a grande vantagem dos humanos sobre os vírus. Um coronavírus na China e um coronavírus nos EUA não podem trocar dicas sobre como infectar humanos. Mas a China pode ensinar aos EUA muitas lições valiosas sobre o coronavírus e como lidar com isso. O que um médico italiano descobre em Milão no início da manhã pode muito bem salvar vidas em Teerã à noite. Quando o governo do Reino Unido hesita entre várias políticas, pode obter conselhos dos coreanos que já enfrentaram um dilema semelhante há um mês. Mas, para que isso aconteça, precisamos de um espírito de cooperação e confiança global.

Os países devem estar dispostos a compartilhar informações de maneira aberta e humilde, procurar aconselhamento e devem poder confiar nos dados e nas idéias que recebem. Também precisamos de um esforço global para produzir e distribuir equipamentos médicos, principalmente testes de kits e máquinas respiratórias. Em vez de todos os países tentarem fazer isso localmente e acumular qualquer equipamento que puderem obter, um esforço global coordenado poderá acelerar bastante a produção e garantir que o equipamento que salva vidas seja distribuído de maneira mais justa. Assim como os países nacionalizam as principais indústrias durante uma guerra, a guerra humana contra o coronavírus pode exigir que "humanizemos" as linhas de produção cruciais. Um país rico com poucos casos de coronavírus deve estar disposto a enviar equipamentos preciosos para um país mais pobre com muitos casos, confiando que, se e quando posteriormente precisar de ajuda, outros países o ajudarão.

Podemos considerar um esforço global semelhante para reunir pessoal médico. Os países atualmente menos afetados podem enviar equipes médicas para as regiões mais atingidas do mundo, tanto para ajudá-las em suas horas de necessidade quanto para obter uma experiência valiosa. Se mais tarde, no foco das mudanças epidêmicas, a ajuda poderia começar a fluir na direção oposta.
Também é de vital importância a cooperação global na frente econômica. Dada a natureza global da economia e das cadeias de suprimentos, se cada governo fizer suas próprias coisas em total desconsideração dos demais, o resultado será um caos e uma crise cada vez mais profunda. 

Precisamos de um plano de ação global e precisamos dele rapidamente.
Outro requisito é chegar a um acordo global sobre viagens. Suspender todas as viagens internacionais por meses causará enormes dificuldades e dificultará a guerra contra o coronavírus. Os países precisam cooperar para permitir que pelo menos um bando de viajantes essenciais continue atravessando as fronteiras: cientistas, médicos, jornalistas, políticos, empresários. Isso pode ser feito alcançando um acordo global sobre a pré-seleção dos viajantes pelo país de origem. Se você souber que apenas viajantes cuidadosamente selecionados foram permitidos em um avião, estaria mais disposto a aceitá-los em seu país.

Infelizmente, atualmente os países dificilmente fazem alguma dessas coisas. Uma paralisia coletiva tomou conta da comunidade internacional. Parece não haver adultos na sala. Esperávamos ver, há algumas semanas, uma reunião de emergência de líderes globais para elaborar um plano de ação comum. Os líderes do G7 conseguiram organizar uma videoconferência apenas nesta semana, e não resultou em nenhum plano desse tipo.

Nas crises globais anteriores - como a crise financeira de 2008 e a epidemia de Ebola de 2014 - os EUA assumiram o papel de líder global. Mas o atual governo dos EUA abdicou do cargo de líder. Deixou bem claro que se preocupa muito mais com a grandeza da América do que com o futuro da humanidade.
Este governo abandonou até seus aliados mais próximos. Quando proibiu todas as viagens da UE, não se deu ao trabalho de avisar a UE com antecedência - e muito menos de consultar a UE sobre essa medida drástica. Ele escandalizou a Alemanha ao oferecer supostamente US $ 1 bilhão a uma empresa farmacêutica alemã para comprar direitos de monopólio de uma nova vacina Covid-19. Mesmo que a administração atual acabe mudando de rumo e elabore um plano de ação global, poucos seguirão um líder que nunca assume responsabilidade, que nunca admite erros e que rotineiramente assume todo o crédito por si mesmo, deixando toda a culpa para os outros.

Se o vazio deixado pelos EUA não for preenchido por outros países, não só será muito mais difícil interromper a epidemia atual, como seu legado continuará envenenando as relações internacionais nos próximos anos. No entanto, toda crise também é uma oportunidade. Devemos esperar que a epidemia atual ajude a humanidade a perceber o grave perigo que representa a desunião global.
A humanidade precisa fazer uma escolha. Iremos percorrer o caminho da desunião ou adotaremos o caminho da solidariedade global? Se escolhermos a desunião, isso não apenas prolongará a crise, mas provavelmente resultará em catástrofes ainda piores no futuro. Se escolhermos a solidariedade global, será uma vitória não apenas contra o coronavírus, mas contra todas as futuras epidemias e crises que possam assaltar a humanidade no século XXI.

* Yuval Noah Harari é autor de 'Sapiens', 'Homo Deus' e '21 Lessons for the 21st Century '
* Texto original em Inglês.

*** Fonte: https://dnyuz.com/2020/03/20/yuval

quarta-feira, 25 de março de 2020

Rastreador do COVID-19 (pandemia/2020)


Estamos em meio a uma pandemia causada pelo coronavírus. No link bing.com/covid podemos ver a evolução desta pandemia conforme é registrada oficialmente. Na China parece que estabilizou o número de casos registrados, mas em outros países, especialmente na Itália, Espanha e EUA as curvas estão apontando para um crescente muito preocupante. No Brasil, estamos ainda no início, a situação pode ficar muito preocupante nas próximas semanas.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Algumas pandemias ao longo da história


A atual pandemia do coronavírus é "apenas" mais uma de uma longa série de pandemias que já circularam pelo mundo desde antes de Cristo. Quando ouvimos falar de pandemia, uma das mais famosas que lembramos dos livros de história é a peste negra que (supostamente) varreu 1/3 da população européia na Idade Média.

Na Wikipédia lemos: uma pandemia (do grego παν [pan = tudo/ todo(s)] + δήμος [demos = povo]) é uma epidemia de doença infecciosa que se espalha entre a população localizada numa grande região geográfica como, por exemplo, um continente, ou mesmo o Planeta Terra.

O número de mortes em uma epidemia ou em pandemia dependem basicamente de dois fatores: taxa de mortalidade e extensão populacional atingida. Se a doença é muito virulenta, ela acaba se autolimitando e não se espalha tanto, pois a taxa de mortalidade é maior que o espalhamento. Fatores tais como higiene, situação nutricional, existência de remédios, entre outros, afetam o número de mortes. Segundo a OMS, para surgir uma pandemia são necessários três  fatores:
  • O aparecimento de uma nova doença na população. 
  • O agente infecta humanos, causando uma doença séria. 
  • O agente espalha-se fácil e sustentavelmente entre humanos.
Em ordem cronológica, segue uma relação (incompleta) de algumas mais mortais pandemias que já circularam pela Terra:
  • Peste do Egito (430 a.C.) - a febre tifoide matou um quarto das tropas atenienses e um quarto da população da cidade durante a Guerra do Peloponeso. 
  • Peste Negra (1300) - oitocentos anos depois do último aparecimento, a peste bubônica tinha voltado à Europa. Começando a contaminação na Ásia, a doença chegou à Europa mediterrânea e ocidental em 1348 (possivelmente de comerciantes fugindo de italianos lutando na Crimeia), e matou vinte milhões de europeus em seis anos, um quarto da população total e até metade nas áreas urbanas mais afetadas. 
  • Gripe Asiática (1889–1892) - foi detectada em maio de 1889 em Bukhara, Rússia. Em outubro, tinha chegado a Tomsk e no Cáucaso. Espalhou-se rapidamente pelo oeste e atingiu a América do Norte em dezembro de 1889, América do Sul entre fevereiro e abril de 1890, Índia entre fevereiro e março de 1890 e Austrália entre março e abril de 1890. Era causada pelo subtipo H2N2 do vírus influenza e teve uma taxa de mortalidade muito alta. 
  • Gripe espanhola (1918–1919) - identificada no começo de março de 1918 em tropas dos Estados Unidos que treinavam no Acampamento Funston, Kansas. Coincidiu com o fim da Primeira Guerra Mundial. Em outubro de 1918 tinha espalhado-se para se tornar uma pandemia mundial, atingindo todos os continentes. Extraordinariamente mortal e violenta, quase terminou tão depressa quanto começou, desaparecendo completamente dentro de 18 meses. É a pandemia mais devastadora que se conhece. Esta epidemia foi extensivamente narrada e foi descrita como "o maior holocausto médico da história". Em seis meses, 25 milhões de pessoas estavam mortas (algumas estimativas que esse número seja duas vezes maior). Calculou-se que 17 milhões de pessoas morreram na Índia, 500.000 nos Estados Unidos e 200.000 no Reino Unido. O vírus foi reconstruído recentemente por cientistas do CDC que estudavam restos de cadáveres preservados pelo permafrost no Alasca. Eles identificaram isto como um tipo de vírus H1N1. 
  • O vírus HIV que causa a AIDS é considerado uma pandemia global agora com infecção taxa tão alta quanto 25% na África subsaariana, começou em algum momento da década de 1960. Educação efetiva sobre prática sexual mais segura e treinar precauções ajudou reduzir a velocidade das taxas de infecção em vários países africanos que patrocinaram programas de educação nacionais. As taxas de infecção estão subindo novamente na Ásia e na América. Devido a alta incidência de infecção uma imensa perda de vidas nas África central e leste estão devastando os países destas regiões. Existe uma estimativa de que mais de 30 milhões de mortes em decorrência da AIDS.
Então, se você acha que essa pandemia do coronavírus é um anúncio do fim do mundo, talvez tenha que esperar um pouco mais - ela é mais uma, dificilmente será a última pandemia. Certamente, muitos efeitos colaterais seguirão no rastro desta pandemia, recessão e desemprego são certezas, e muitos de nós podem perder pais e avós (mas temos que lembrar que os jovens não são imunes). Entretanto, de forma diferente de outras pandemias, sabemos muito bem o que fazer e os governos estão cientes do que devem fazer. Esperamos que todos façam sua parte para minimizar os danos.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Simulando uma epidemia em um ambiente isolado

Exemplo de uma curva de epidêmica.

Conceitos básicos.

* Surto: é o aumento pouco comum no número de casos relacionados epidemiologicamente, de aparecimento súbito e disseminação localizada num espaço específico.

* Epidemia: é a ocorrência de casos de doença ou outros eventos de saúde com uma incidência maior que a esperada para uma área geográfica e períodos determinados. O número de casos que indicam a presença de uma epidemia varia conforme o agente, o tamanho e o tipo de população exposta, sua experiência prévia ou ausência de exposição à doença, e o lugar e tempo de ocorrência.

A duração de um surto ou epidemia depende, basicamente, dos seguintes fatores:

  • a velocidade do surto, em relação à infectividade do agente e modo de transmissão;
  • o tamanho da população suscetível;
  • a intensidade de exposição da população suscetível;
  • o período de incubação da doença;
  • a efetividade das medidas de controle imediato.

Problema.

Considere uma comunidade isolada, talvez os habitantes de uma ilha pequena e completamente inacessível pelo "resto do mundo". O que aconteceria com essa população se um único indivíduo fosse atacado por um agente infeccioso com um período de incubação longo e baixa mortalidade? Quanto tempo seria necessário para toda a população ser atingida? Como seria a curva de crescimento do número de indivíduos doentes nessa população se contágio fosse pelo contato físico próximo entre uma pessoa infectada e uma pessoa sã? Eventualmente todos os habitantes seriam infectados?

Parâmetros básicos da simulação: população de 300 indivíduos, com um infectado inicialmente, taxa de mortalidade de 10%. Ao final de um certo período de tempo o indivíduo doente fica curado ou morre. Enquanto ele está doente, pode continuar infectando outros. A população se move dentro de uma ilha de 100 x 100, o contágio se dá pelo contato próximo de 2 indivíduos, sendo que um deles está infectado e o outro não.

Segue abaixo um código Scilab que simula essa situação hipotética desse surto. Claro que eu não sou um epidemiologista ou médico sanitarista, mas sei fazer simulações no computador e o resultado, eu acredito, não ficou inteiramente distante da realidade. Naturalmente, a motivação desta publicação é a pandemia que o mundo todo está enfrentando esses dias. Esperamos que as medidas que estão sendo adotadas alcancem os objetivos e o número de mortos não seja tão grande quanto está sendo na Itália ou China.

Pelas simulações percebemos que se a distância entre as pessoas for maior (menor contato), a taxa de contágio será consequentemente menor e pico de contágio reduzido e o número de mortes também. A curva do surto (ou de uma epidemia) fica mais achatada.

Descolamento da população pela região geográfica.
Evolução do surto - caso 01.
Evolução do surto - caso 02. Maior afastamento entre os indivíduos.

Curva do surto - maior distância entre as pessoas.


Código Scilab:

////// Simula Epidemia
/// Prof. Dr. Francisco José A. de Aquino

/// Constantes de inícialização do código
xdel(winsid());
clear; clc;

/// População, velocidade e posição inicial.
N = 300;  // individuos
vx = 0.3*rand(1,N,'n');
vy = 0.3*rand(1,N,'n');
px = 100*rand(1,N,'u');
py = 100*rand(1,N,'u');

/// Estatus dos indivíduos
Et = zeros(1,N);
Et(30) = 1;  //0: suscetivel; 1: doente; 2: curada; 3: morta.
Dt = zeros(1,N);  // instante de contágio
Dt(30) = 1;  // indivíduo no. 30 inicialmente doente
ps = N - 1;  // suscetível
pd = 1; // pessoa doente
pc = 0; //pessoa curada
pm = 0; //pessoa morta
tempo = 1100; // tempo de simulação
vt = zeros(1,tempo);
vc = vt;
winH=waitbar('Simulando ...');
for k=1:tempo
    waitbar(k/tempo,winH);
    //plot(px,py,'w.');
    for p=1:N
        px(p) = px(p) + vx(p);
        py(p) = py(p) + vy(p);
        if px(p) > 100 then vx(p) = - vx(p); end;
        if py(p) > 100 then vy(p) = - vy(p); end;       
        if px(p) < 0 then vx(p) = - vx(p); end;
        if py(p) < 0 then vy(p) = - vy(p); end;       
    end
    vt(k) = ps;
    vc(k) = pc;
    vm(k) = pm;
    vd(k) = pd;
    //plot(px,py,'.'); title([string(k),' * ',string(sum(Et))]);
    for c1=1:N
        if ((k-Dt(c1)) > 300)&(Et(c1) == 1) then
               Et(c1) = 2; /// curada
               pc = pc + 1;
               pd = pd - 1;
               xx = rand(1,1,'u');
               if xx>0.95 then
                   Et(c1) = 3;  /// morte
                   vx(c1) = 0;
                   vy(c1) = 0;
                   pm = pm + 1;
                   pc = pc - 1;
               end;             
            end;
        for c2=(c1+1):N
            dx = px(c1)-px(c2);
            dy = py(c1)-py(c2);
            d2 = dx*dx + dy*dy;
            if d2<0 .10="" nbsp="" p="" then="">//                plot(px(c1),py(c1),'ro');
//                disp([k, px(c1),py(c1),c1,c2,d2]);
                vx(c1) = -vx(c1);
                vy(c2) = -vy(c2);
                if (Et(c1) == 0)&(Et(c2) == 1) then Et(c1) = 1; Dt(c1) = k; ps = ps - 1; pd = pd + 1; end;
                if (Et(c1) == 1)&(Et(c2) == 0) then Et(c2) = 1; Dt(c2) = k; ps = ps - 1; pd = pd + 1; end;
            end;
        end;
    end;
end
close(winH);
figure; plot(vt);
plot(vc,'m');
plot(vm,'r');
plot(vd,'k');
legend('s - suscetíveis','c - curadas','m - mortas','d - doentes');

quinta-feira, 19 de março de 2020

Relação sinal ruído de quantização


Conceitos importantes

* Relação sinal-ruído ou razão sinal-ruído (frequentemente abreviada por S/N ou SNR, do inglês, signal-to-noise ratio e RSR em português) é um conceito de telecomunicações, usado em diversos campos como ciência e engenharia que envolvem medidas de um sinal em meio ruidoso, definido como a razão da potência de um sinal e a potência do ruído sobreposto ao sinal, geralmente expressa em Decibel.
\[ SNR = \frac{P_s}{P_n}\] \[ SNR_{dB} = 10 log_{10}(P_s/P_n) \]

* Amostragem. Para ser digitalizado, um sinal analógico deve ser primeiro amostrado. A taxa de amostragem mínima deve ser maior que duas vezes a maior frequência do sinal.

* Aliasing. Se a taxa de amostragem for baixa, ocorre o fenômeno de aliasing.

* Quantização. A diferença entre o sinal analógico original e sua versão quantizada é chamada de erro ou ruído de quantização. Quanto menos bits usamos na quantização, mais grosseira ela fica, e portanto mais ruído de quantização é adicionado.



Exemplo. O exemplo abaixo mostra principalmente o efeito do número de bits na relação sinal-ruído de quantização. Neste exemplo é usada uma taxa de amostragem superior a taxa de Nyquist.

Código Scilab:

/// Conversor AD: amostragem, número de bits
/// e relação sinal-ruído de quantização
/// Prof. Francisco Aquino.
/// 19/03/2020

/// Constantes de inícialização do código
xdel(winsid());
clear; clc;
p2 = 2*%pi;  // 2 "pi"
Nb = 4;  // Número de bits
N2 = 2^(Nb-1);  // 1 bit sinal

/// Sinal "contínuo" no tempo:
t = 0:0.01:4;   /// "tempo"
s = sin(p2*t) + 0.5*cos(2.5*p2*t);
s = s/max(abs(s));   // s normalizado
figure; plot(t,s);
title('Sinal no tempo');

/// Amostragem
sa = s(1:5:$); // amostragem do sinal
figure;  bar(sa,0.15); plot(s(1:5:$),'--');
title('Amostras do sinal');

/// Quantização:
saq = round(sa*N2)/N2; // sinal quantizado

/// Erro de quantização:
eq = sa - saq;
figure;  bar(eq,0.15);
title('Erros de quantização');
veq = variance(eq);
vveq = [veq];
for k=5:10
    Nb = k;  // Número de bits
    N2 = 2^(Nb-1);  // 1 bit sinal
    saq = round(sa*N2)/N2; // sinal quantizado
    eq = sa - saq;
    veq = variance(eq);
    vveq = [vveq, veq]
end

vs = variance(s);
veqdb = 10*log10(vs./vveq);
vb = 4:10;  // bits
figure;  plot(vb,veqdb,'-*');
title('SNRQ dB');

Resultados gráficos:



terça-feira, 17 de março de 2020

Coronavirus: afetando a vida de muitos


Aqui em Fortaleza as escolas e faculdades e universidades já suspenderam as aulas. Muitas empresas estão com redução do pessoal e fazendo trabalho remoto (home office). Mesmo já sendo uma pandemia e uma doença grave, não devemos (e não precisamos) entrar em pânico, principalmente para os mais idosos ou que já tenham algum problema de saúde. As principais medidas práticas para reduzir a velocidade e a quantidade de contaminados por essa pandemia são:


Área afetada:

Fonte aqui.

O vírus - COVID-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019) 


Os coronavírus são um grupo de vírus de genoma de RNA simples de sentido positivo (serve diretamente para a síntese proteica), conhecidos desde meados dos anos 1960. Pertencem à subfamília taxonômica Orthocoronavirinae da família Coronaviridae, da ordem Nidovirales. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida. Eles são uma causa comum de infecções respiratórias brandas a moderadas de curta duração.

Cada vírus SARS-CoV-2 tem aproximadamente 50–200 nanômetros de diâmetro. Como outros coronavírus, o SARS-CoV-2 possui quatro proteínas estruturais, conhecidas como proteínas S (espiga), E (envelope), M (membrana) e N (nucleocapsídeo); a proteína N contém o genoma do RNA e as proteínas S, E e M juntas criam o envelope viral. A proteína spike, que foi fotografada no nível atômico usando microscopia eletrônica criogênica, é a proteína responsável por permitir que o vírus se ligue à membrana de uma célula hospedeira.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Xadrez: CCXR - CIRCUITO 20 ANOS - 1ª ETAPA


CCXR - CIRCUITO 20 ANOS - 1ª ETAPA
29 março, das 13:30h às 20:00h
SHOPPING BENFICA ,Fortaleza-CE
AV. CARAPINIMA 2200 - BENFICA
Click aqui para fazer sua inscrição agora!

CCXR - CIRCUITO 20 ANOS - 1ª ETAPA
1. LOCAL:
O Torneio será realizado na Área de Eventos.
2. OBJETIVO:
2.1. Movimentar o Rating FCX e a modalidade no município, favorecendo a oportunidade dos jogadores locais de competir com enxadristas de todo o Estado;
2.2. Classificar Finalista para a Final do Campeonato Cearense de Xadrez Rápido de 2020;
2.3. Incentivar a prática do xadrez pelo Ceará e a confraternização enxadrística.
3. REALIZAÇÃO, DIREÇÃO E ARBITRAGEM:
3.1. Realização: Xadrez Clube;
3.2. Árbitro do Evento: Francisco Roberto Santiago dos Santos.
4. SISTEMA, RITMO DE JOGO E EMPACEIRAMENTO:
4.1. Sistema: suíço em 06 rodadas pelo programa SwissPerfect 98;
      - Número de Jogadores igual ou inferior a 32 jogadores = 05 rodadas;       - Número de Jogadores Superior a 32 Jogadores = 06 rodadas.
  4.2. Cadência: 20 minutos (relógio analógico) ou 15 minutos + 5 segundos de incremento (relógio digital), este último tem prioridade.
************
CONTATO: ROBERTO SANTIAGO
Fone: (85) 989350537 (whatsapp)

quarta-feira, 4 de março de 2020

Dica de leitura: Escolha a Catástrofe – Isaac Asimov

Uma das edições do livro de Isaac Asimov

Isaac Asimov (Petrovichi, Rússia Soviética, atual Rússia, 2 de janeiro de 1920 - Brooklyn, 6 de abril de 1992) foi um escritor e bioquímico norte-americano, nascido na Rússia, autor de obras de ficção científica e divulgação científica. Bem cedo ele optou por ser escritor em vez de ser um pesquisador na área de bioquímica. Ele não era muito hábil dentro de um laboratório.

Asimov é considerado um dos mestres da Ficção Científica e, junto com Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, foi considerado um dos "três grandes" da ficção científica. A obra mais famosa de Asimov é a Série da Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com a Série Robôs. Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de não-ficção. No total, escreveu ou editou mais de 500 volumes, aproximadamente 90 000 cartas ou postais, e tem obras em cada categoria importante do sistema de classificação bibliográfica de Dewey, exceto em filosofia. Ele era membro da Mensa (Mensa, the high IQ society, provides a forum for intellectual exchange among its members. There are members in more than 100 countries around the world).

Escolha a Castátrofe (título original Choice of Catastrophes de 1979) é um dos seus livros de não ficção. Nesse livro Isaac Asimov especula desde as possibilidades de um apocalipse cataclísmico de todo o universo até colapso da humanidade, mas permanecendo a Terra e a vida aqui mais ou menos inalterados. Asimov dividiu as as possibilidades de catástrofes em cinco graus diferentes: as de primeiro grau levariam ao fim de todo o Universo, enquanto as de quinto levariam a humanidade de volta à barbárie, sem que a vida seja necessariamente extinta. Ver aqui uma resenha mais completa.