segunda-feira, 8 de abril de 2013

Júpiter, super-júpiteres, anãs marrons e anãs vermelhas: como distinguir?



Júpiter é um planeta gigante gasoso, composto principalmente por hidrogênio e hélio. Sua massa (que pode ser representada por “MJ”), quando comparada com a massa da Terra, é imensa: 317,83 vezes maior, mas muito menor que a massa do Sol (representada por “MS”): apenas 0,0009546, ou um pouco menos que um milésimo (MJ MS/1000).

Devido seu grande tamanho, alguns dizem que Júpiter é uma estrela que falhou, porém isso está longe de ser verdade. Mesmo que Júpiter tivesse uma massa 10 vezes maior, ainda seria um planeta gigante gasoso e não uma estrela. Entre os planetas gigantes gasosos e as menores estrelas existe uma categoria de astros “intermediários”: as anãs marrons.


Existe um pequeno problema com a expressão “anã marrom”: esses astros não são “marrons”. Antes era um pouco pior, “anã negra”, “anã infra-vermelha” eram a expressões usadas. A expressão atual foi proposta em 1975 pela astrônoma Jill C. Tarter em sua tese de doutorado.

Uma anã marrom possui massa suficiente para “queimar” o lítio e o deutério em seu núcleo e gerar energia nuclear de forma própria, mas por pouco tempo (muitos milhares de anos), pois o seu combustível logo se esvai. Essa é a diferença entre os planetas gigantes gasosos e as anãs marrons: os primeiros não conseguem pressão e temperaturas suficientes em seus núcleos para iniciar uma reação nuclear. Curiosamente, uma anã marrom pode ser até ter o diâmetro menor que um planeta gigante gasoso, pois a densidade também aumenta com o aumento da massa.

A massa de uma anã marrom se situa (aproximadamente) no seguinte intervalo: 13MJMa ≤ 75MJ (ou 0,013MSMa ≤ 0,075MS). A variação desse intervalo vai depender de alguns fatores técnicos (metalicidade, percentual inicial de deutério e hélio) e do modelo físico adotado para representar a anã marrom, o que, obviamente, foge ao escopo dessa postagem. Para uma anã marrom valem as seguintes reações nucleares:
  • se a massa Ma 13MJ : p + 2H3He + γ
  • se a massa Ma 63MJ : p + 5Li → 24He + γ & p + 6Li4He + 3He + γ
Como as quantidades de deutério e lítio disponíveis são relativamente pequenas, depois de um tempo relativamente curto, as anãs marrons entram em processo de resfriamento e se contraem ainda mais, ficando com um diâmetro aproximadamente igual ao de Júpiter ou menor!

Em escala: Sol, uma pequena anã vermelha (75 MJ), uma anã marrom "grande" (65 MJ), uma anã marrom "média" (30 MJ) e Júpiter. As anãs têm uma idade de 1 bilhão de anos.
Já as anãs vermelhas são estrelas de “verdade”, queimando hidrogênio (reação próton-próton) em seu núcleo, mas de forma tão lenta que podem durar centenas de bilhões de anos. Um cálculo rápido: se a anã vermelha tiver uma massa de apenas 0,1 MS, e brilhar com uma intensidade 100 vezes menor que o Sol, então sua duração será, aproximadamente, 10 vezes maior. Isso significa que ela pode continuar queimando lentamente o hidrogênio em seu núcleo por uns 50-100 bilhões de anos. Na verdade, um cálculo mais detalhado mostra que o tempo de vida de uma anã vermelha pode passar de um trilhão de anos (ver aqui)! Uma anã vermelha “grande”, tem uma massa ≈ 0,5 MS e um diâmetro com cerca da metade do diâmetro do Sol. Para essa estrela, a sua vida na sequência principal terá uma duração algumas vezes maior que a do Sol, mas ela nunca chegará a se tornar uma gigante vermelha se sua massa for menor que 0,25 MS. A tabela abaixo indica as características típicas das anãs vermelhas (fonte aqui).


Características típicas das anãs vermelhas
Classe Massa
Ms
Raio
Rs
Lumin.
Ls
Teff (K)
M0V 60% 62% 7.2% 3,800
M1V 49% 49% 3.5% 3,600
M2V 44% 44% 2.3% 3,400
M3V 36% 39% 1.5% 3,250
M4V 20% 26% 0.55% 3,100
M5V 14% 20% 0.22% 2,800
M6V 10% 15% 0.09% 2,600
M7V 9% 12% 0.05% 2,500
M8V 8% 11% 0.03% 2,400
M9V 7.5% 8% 0.015% 2,300

As figuras abaixo (Burrows et al., 2001) apresenta uma espécie de síntese de tudo o que foi falado até agora:


Devido à sua longa vida, uma estrela anã vermelha “grande” talvez seja um lugar privilegiado para permitir o nascimento e o florescimento da vida. Talvez até vida inteligente. Será que os criadores do personagem “super-homem” pensaram nisso?

Para ler mais: aqui e aqui. Ainda neste blog:

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