Temos doutores demais no Brasil?!
Faz
algumas semanas, o atual ministro da Educação, o senhor Abraham
Weintraub, afirmou que a formação de novos doutores não é
prioridade, mas é uma meta que já foi superada: “já
temos doutores demais” parece ser o
pensamento do distinto ministro (ver aqui). Logo, bolsas de pesquisa
poderiam ser cortadas e os recursos destinados a outras prioridades.
Não sei de onde o senhor ministro tirou essa ideia errônea, dos
fatos é que não foi.
O número de doutores formados no Brasil, em termos percentuais, está
muito abaixo dos números dos países medianamente desenvolvidos,
como Portugal e Espanha. Vejamos alguns números. No Japão o número
de doutores é de quase 13 por 100 mil habitantes. A Itália tem
cerca de 17 doutores por 100 mil habitantes. Esses são dois dos
países desenvolvidos com menores números de doutores por 100 mil
habitantes, países como Alemanha e Reino Unido superam o índice de
30 doutores por 100 mil habitantes. E no Brasil? Atualmente temos
cerca de 7,6 doutores 100 mil habitantes e, em sua maior parte,
concentrados nas regiões Sul-Sudeste (ver aqui). Logo, a afirmação do
ministro Weintraub de que temos um número excessivo de doutores é
um completo equívoco.
Outro ponto muito importante e que não vemos o ministro pensar: a
fuga de talentos. Muitos dos recém-doutores não conseguem um
colocação razoável no Brasil e partem para reforçar os times de
pesquisadores no exterior. Isto é, depois de um grande esforço,
formamos, a duras penas, um pesquisador e esse pesquisador não
encontra condições de continuar o trabalho no Brasil. Perdemos
dessa forma muitos talentos devido à nossa falta de estrutura e o
excesso de burocracia (ver aqui).
Nossa indústria também contrata poucos doutores, são raras as
grandes empresas que possuem um setor de pesquisa ou uma maior
integração com as Universidades. Tudo isso leva a uma verdadeira
evasão de cérebros, o que não é nada boa para o progresso de
nosso país. Continuaremos como exportadores de grãos e importadores
de tecnologias com consequências negativas para toda a sociedade.
Falta uma política consistente que foque no problema de fixação do
pesquisador dentro do próprio Brasil, essa deveria ser uma das
preocupações do governo.
Investir em educação, seja ela de nível elementar ou na
pós-graduação, é sempre um investimento com retorno garantido.
Não é uma despesa. Claro, os bons resultados não são
instantâneos, podem demorar alguns anos (talvez mais que o mandato
de um ministro), mas eles sempre chegam. E fazem uma grande diferença
na vida dos que conseguem estudar com reflexos positivos na sociedade
e no crescimento do país.
O corte de investimentos na Educação e na Pesquisa cobrará sua
fatura nos próximos anos. Aparentemente, o atual ministro não
percebe esses fatos cristalinos, mas o que poderíamos esperar de uma
equipe governamental que tem por guru um astrólogo que nem mesmo
mora no Brasil?!
Francisco J. A. de Aquino: professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE, Campus Fortaleza. Doutor em Engenharia Elétrica pela UFSC. Coordenador do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Telecomunicações (PPGET), Campus Fortaleza – IFCE. Professor do ProfEPT - Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário