quarta-feira, 12 de junho de 2019

Temos doutores demais no Brasil?!


Temos doutores demais no Brasil?!

Faz algumas semanas, o atual ministro da Educação, o senhor Abraham Weintraub, afirmou que a formação de novos doutores não é prioridade, mas é uma meta que já foi superada: “já temos doutores demais” parece ser o pensamento do distinto ministro (ver aqui). Logo, bolsas de pesquisa poderiam ser cortadas e os recursos destinados a outras prioridades. Não sei de onde o senhor ministro tirou essa ideia errônea, dos fatos é que não foi.

O número de doutores formados no Brasil, em termos percentuais, está muito abaixo dos números dos países medianamente desenvolvidos, como Portugal e Espanha. Vejamos alguns números. No Japão o número de doutores é de quase 13 por 100 mil habitantes. A Itália tem cerca de 17 doutores por 100 mil habitantes. Esses são dois dos países desenvolvidos com menores números de doutores por 100 mil habitantes, países como Alemanha e Reino Unido superam o índice de 30 doutores por 100 mil habitantes. E no Brasil? Atualmente temos cerca de 7,6 doutores 100 mil habitantes e, em sua maior parte, concentrados nas regiões Sul-Sudeste (ver aqui). Logo, a afirmação do ministro Weintraub de que temos um número excessivo de doutores é um completo equívoco.

Outro ponto muito importante e que não vemos o ministro pensar: a fuga de talentos. Muitos dos recém-doutores não conseguem um colocação razoável no Brasil e partem para reforçar os times de pesquisadores no exterior. Isto é, depois de um grande esforço, formamos, a duras penas, um pesquisador e esse pesquisador não encontra condições de continuar o trabalho no Brasil. Perdemos dessa forma muitos talentos devido à nossa falta de estrutura e o excesso de burocracia (ver aqui).

Nossa indústria também contrata poucos doutores, são raras as grandes empresas que possuem um setor de pesquisa ou uma maior integração com as Universidades. Tudo isso leva a uma verdadeira evasão de cérebros, o que não é nada boa para o progresso de nosso país. Continuaremos como exportadores de grãos e importadores de tecnologias com consequências negativas para toda a sociedade. Falta uma política consistente que foque no problema de fixação do pesquisador dentro do próprio Brasil, essa deveria ser uma das preocupações do governo.

Investir em educação, seja ela de nível elementar ou na pós-graduação, é sempre um investimento com retorno garantido. Não é uma despesa. Claro, os bons resultados não são instantâneos, podem demorar alguns anos (talvez mais que o mandato de um ministro), mas eles sempre chegam. E fazem uma grande diferença na vida dos que conseguem estudar com reflexos positivos na sociedade e no crescimento do país.

O corte de investimentos na Educação e na Pesquisa cobrará sua fatura nos próximos anos. Aparentemente, o atual ministro não percebe esses fatos cristalinos, mas o que poderíamos esperar de uma equipe governamental que tem por guru um astrólogo que nem mesmo mora no Brasil?!



Francisco J. A. de Aquino: professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE, Campus Fortaleza. Doutor em Engenharia Elétrica pela UFSC. Coordenador do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Telecomunicações (PPGET), Campus Fortaleza – IFCE. Professor do ProfEPT - Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica.

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