sábado, 31 de maio de 2025

O Navio de Teseu - um pouco de filosofia

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Uma pessoa que sofresse múltiplos transplantes (fígado, coração, pulmões, rins, ...) seria a mesma pessoa de antes? Aparentemente sim, mas na metáfora do Navio de Teseu as coisas são um pouco mais complicadas. Esse paradoxo filosófico questiona a identidade e a continuidade de um objeto ao longo do tempo, especialmente quando suas partes são gradualmente substituídas. Originada na Grécia Antiga, a história é atribuída a Plutarco, que descreve o navio de Teseu, o herói mitológico que navegou de Creta após derrotar o Minotauro. O navio foi mantido como relíquia em Atenas, e, ao longo dos anos, suas tábuas de madeira, velas e outras partes foram sendo substituídas conforme apodreciam, até que nenhuma peça original restasse.
O paradoxo surge com a pergunta: o navio, agora feito de peças totalmente novas, ainda é o mesmo Navio de Teseu? Se não, em que momento ele deixou de ser? E, para complicar, imagine que alguém recolhesse todas as peças originais descartadas e reconstruísse um segundo navio idêntico ao original. Qual dos dois seria o "verdadeiro" Navio de Teseu?
Implicações Filosóficas
  • Identidade e Mudança: O paradoxo explora como definimos a identidade de algo. Se a identidade está nas partes materiais, o navio novo não é o mesmo. Mas se está na função, forma ou história contínua, talvez ainda seja.
  • Filosofia da Mente: A metáfora é usada para discutir a identidade pessoal. Se substituirmos gradualmente todas as células do nosso corpo (o que acontece biologicamente ao longo dos anos) ou até memórias e traços de personalidade, ainda somos a mesma pessoa?
  • Metafísica: Levanta questões sobre essência e continuidade. A "mesmidade" depende de uma essência imutável ou de uma narrativa contínua?
Perspectivas
  • Materialista: Alguns diriam que o navio deixa de ser o mesmo quando todas as partes são trocadas, pois a composição material define sua identidade.
  • Funcionalista: Outros argumentam que, enquanto o navio mantém sua forma e função, ele permanece o mesmo, independentemente das peças.
  • Histórica: Há quem defenda que a identidade está na continuidade histórica – o navio "atual" carrega a história do original, então é o mesmo.
O Navio de Teseu não tem uma resposta definitiva, mas serve como um exercício mental para refletir sobre mudança, identidade e o que realmente faz algo (ou alguém) ser o que é. É um paradoxo que continua relevante em debates filosóficos, científicos e até éticos, como na discussão sobre transumanismo e inteligência artificial.

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