quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Encomium Moriae - Elogio da Loucura (final).

Finalizando o post sobre o "Elogio da Loucura", seguem os últimos trechos selecionados. Novamente, os títulos dos tópicos são nossos, não existem na obra orignal.

- Sobre religião e teólogos.

Oh! como são numerosos os que, em pleno meio-dia, acendem velas aos pés da Virgem Mãe de Deus! Mas, não se acha quase nenhum que siga os seus exemplos de castidade, de modéstia, de zelo pela causa da salvação. No entanto, a imitação das suas virtudes seria o único culto capaz de assegurar o céu aos devotos.

Talvez fosse melhor não falar dos teólogos, tão delicada é essa matéria e tão grande é o perigo de tocar em semelhante corda. Esses intérpretes das coisas divinas estão sempre prontos a acender-se como a pólvora, têm um olhar terrivelmente severo e, numa palavra, são inimigos muito perigosos.

Em todas essas facções, são tantas as erudições e tantas as dificuldades, que, se os próprios apóstolos descessem à terra e fossem obrigados a discutir com os teólogos modernos sobre essas sublimes matérias, sou de opinião que teriam necessidade de um novo espírito totalmente diverso daquele que, em seu tempo, lhes dava a possibilidade de falar.

Mas, adiantem-se agora, se quiserem; e os incrédulos, os pagãos, os judeus, os hereges, todos, todos sem exceção, deverão converter-se e ceder à forca das ínfimas sutilezas dos teólogos modernos. É preciso ser estúpido ou imprudente para não conhecer o valor das suas argúcias ou desprezá-las.

Quantas lindas lorotas não vão esses doutores impingindo a respeito do inferno? Conhecem tão bem todos os seus apartamentos, falam com tanta franqueza da natureza e dos vários graus do fogo eterno, e das diversas incumbências dos demônios, discorrem, finalmente, com tanta precisão sobre a república dos danados, que parecem já ter sido cidadãos da mesma durante muitos anos.

O meu propósito não é investigar e satirizar a vida dos prelados e dos padres, mas fazer o meu elogio: que ninguém pense que, ao louvar os maus princípios, queira eu censurar os bons.

- Sobre os astrólogos.

Mas, não esqueçamos os astrólogos, aos quais o céu serve de biblioteca e os astros servem de livros. Graças a esse estudo, compreendem tudo muito bem e revelam o futuro, predizendo maiores prodígios do que os magos. E o mais bonito é que ainda têm a fortuna de encontrar crédulos.

- Sobre os ricos, principes e a guerra.

Outros, imaginando-se ricos, arquitetam belíssimas quimeras de fortuna e vivem felizes nas suas esperanças. Alguns querem passar por ricos, embora às vezes chegue a lhes faltar o necessário. Um apressa-se a esbanjar todos os seus bens, enquanto outro está sempre preocupado em acumular, por meios lícitos, tudo o que pode.

Já é tempo de dizer alguma coisa sobre os príncipes e os grandes, que são justamente o oposto dos velhacos e impostores de que acabei de falar, pois me prestam o seu culto sem nenhuma reserva e com a franqueza própria do seu estado. Se esses felizes semideuses tivessem na cachola meio grama apenas de cérebro, que haveria no mundo de mais triste e miserável que a sua condição?

Com efeito, observemos em que consistem as obrigações de um homem que é posto à testa de uma nação. Deve dedicar-se dia e noite ao bem público e nunca ao seu interesse privado; pensar exclusivamente no que é vantajoso para o povo; ser o primeiro a observar as leis de que é autor e depositário, sem desviar-se nunca de nenhuma delas; observar, com firmeza e com os próprios olhos, a integridade dos secretários e dos magistrados; ter sempre presente que todos têm os olhares fixos na sua conduta pública e privada, podendo ele, à maneira de um astro salutar, influir beneficamente sobre as coisas humanas, ou, como um infausto cometa, causar as maiores desolações.

A guerra é, por natureza, tão cruel, que muito mais conviria às feras do que aos homens; tão insensata que os poetas a atribuíram às fúrias do inferno; tão pestilenta que corrompe todos os costumes; tão iníqua que a fazem melhor perversos ladrões do que homens probos e virtuosos; finalmente, tão ímpia que nenhuma relação possui com Jesus Cristo nem com sua moral.

(Fim do bloco III)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Encomium Moriae - Elogio da Loucura (cont.)

Continuação do post anterior.

- Sobre os sábios e os tolos.

De tudo isso, infiro que os verdadeiros felizardos são os que mais se aproximam da índole e da estupidez dos brutos, sem empreenderem  nada que esteja acima das forças humanas.

Notai, de passagem, o privilégio que  têm os bobos de poder falar com toda a sinceridade e franqueza. Haverá coisa mais  louvável do que a verdade?

Mas, os sábios, segundo o mesmo Eurípedes, têm duas línguas, uma para dizer o que pensam e a  outra para falar conforme às circunstâncias: quando o querem, têm talento para fazer o  preto aparecer como branco e o branco como preto, soprando com a mesma boca o calor e o  frio (66) e exprimindo com palavras  exatamente o contrário do que sentem no peito.

Só se costuma defender a verdade quando não se é atingido por ela; ora, só aos loucos os deuses  concederam o privilégio de censurar e moralizar sem ofender a ninguém.

Os cômicos, os músicos, os oradores, os poetas — eis aí, eis os melhores amigos do amor próprio! Quanto mais ignorantes, tanto mais  perfeitos se julgam em sua arte, e, assim prevenidos em benefício próprio, aproveitam todas  as ocasiões para celebrar os próprios louvores. 

Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que não podemos certificar-nos de nenhuma verdade.

Porque, se há verdades que, tendo sido bem demonstradas, não deixam lugar às dúvidas, quantas não serão — pergunto — as que  perturbam o tranquilidade e os prazeres da vida? Os homens, enfim, querem ser enganados  e estão sempre prontos a deixar o verdadeiro para correr atrás do falso. 

Merecem ser incluídos nessa categoria os habitantes da caverna de Platão (77). Ao  verem, os tolos, as sombras e as aparências de diversas coisas, admiram-nas e nada mais  procuram, dando-se por satisfeitos. Já os filósofos, por estarem fora da caverna, não só  observam os mesmos objetos como lhes investigam os mistérios. Não terão uns e outros o  mesmo prazer?

Não haveria, pois, diferença alguma entre os sábios e os loucos, se não fossem mais  felizes estes últimos. 

Os sábios são em número tão escasso que nem vale a pena falar deles, e eu desejaria  saber mesmo se é possível descobrir algum. No curso de tantos séculos, a Grécia se  vangloria de ter produzido apenas sete sábios. É na verdade maravilhoso! O gênero humano  deve mesmo muito a essa felicidade da Grécia! Foram mesmo sete? Pois pedi a Deus que  não vos venha o desejo de anatomizá-los cuidadosamente, porque, de contrário (juro-vos  por Hércules, arrebento-vos a cabeça), não encontraríeis, decerto, nem a metade de um  filósofo e talvez nem mesmo um terço.

- Sobre os doutores.

Conheço um homem de sessenta anos que conhece perfeitamente o grego, o
latim, as matemáticas, a filosofia, a medicina. Pois seríeis capazes de adivinhar com que se  preocupa esse sábio universal, há uns vinte anos? Tendo abandonado todos os estudos,  dedica-se exclusivamente à gramática, pondo o cérebro num tormento contínuo. Só ama a  vida para ter tempo de dirimir algumas dificuldades dessa importante arte, e morreria  satisfeito se descobrisse um método seguro de distinguir bem as oito partes do discurso,  coisa que, a seu ver, não conseguiram com perfeição nem os gregos nem os latinos. Bem  vedes que é uma questão de suma importância para o gênero humano. Com efeito, não é  mesmo uma miséria estar sempre correndo o risco de tomar uma conjunção por advérbio?  Um tal equívoco mereceria uma guerra cruenta.

Outra espécie de pessoas mais ou menos da mesma laia é constituída pelos que
ambicionam uma fama imortal publicando livros. Todos esses escritores têm parentesco  comigo, sobretudo os que só publicam coisas insípidas.

Compreendem-na ainda melhor os plagiários* que com suas facilidades se apropriam  das obras alheias, gozando da glória que aqueles dos quais eles a roubaram conseguiram  com imensa dificuldade. Não ignoram esses impudentes que, mais dia menos dia, será  descoberto o furto, mas, em compensação, esperam aproveitar-se dele por algum tempo. 

* Plagiários eram os que roubavam as crianças e os escravos. A palavra tem, hoje, um sentido análogo, referindo-se aos que roubam idéias alheias.

Pretendem os advogados levar a palma sobre todos os eruditos e fazem um grande  conceito da sua arte. Ora, para vos ser franca, a sua profissão é, em última análise, um  verdadeiro trabalho de Sísifo (84). Com efeito, eles fazem uma porção de leis que não  chegam a conclusão alguma. Que são o digesto, as pandectas, o código? Um amontoado de  comentários, de glosas, de citações. Com toda essa mixórdia, fazem crer ao vulgo que, de  todas as ciências, a sua é a que requer o mais sublime o laborioso engenho. E, como sempre  se acha mais belo o que é mais difícil, resulta que os tolos têm em alto conceito essa  ciência.

(Fim do bloco II)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Encomium Moriae - Elogio da Loucura

O livro "Elogio da Loucura" ("Encomium Moriae") de Erasmo de Rotterdam (1466 — 1536) é uma crítica inteligente e ácida contra a sociedade, as instituições e pessoas de sua época. Mesmo tendo sido escrito em 1508 e  publicado alguns anos depois, muitas críticas são ainda atuais e perfeitamente cabíveis ao nosso mundo.

Abaixo, alguns trechos (na tradução de Paulo M. Oliveira) que destacamos do texto. Para que a postagem não fique excessivamente longa, dividimos em três grandes blocos aproximadamente coerentes. O títulos dos tópicos são meus.

- Preâmbulo. A Loucura se apresenta.

Assim, pois, sigo aquele conhecido provérbio que diz: Não tens quem te elogie? Elogia-te a ti mesmo.

Não julgueis que assim vos fale por ostentação de engenho, como costuma fazer a maior parte dos oradores.  Estes, como bem sabeis, depois de se esfalfarem bem uns trinta anos em cima de um  discurso, talvez surrupiado de outrem, são tão impudentes que procuram impingir que o  fizeram, por divertimento, em três dias, ou então que o ditaram.

Não existe em mim simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração.

- Sobre os homens em geral.

Vê-se claramente que o homem não nasceu para gozar aqui na terra de uma felicidade perfeita.

Os homens que se consagram ao estudo da ciência são, em geral,  infelicíssimos em tudo, sobretudo com os filhos. Suponho que isso provenha de uma  precaução da natureza, que dessa forma procura impedir que a peste da sabedoria se  difunda em excesso entre os mortais.

Tomareis o sábio mais por uma estátua do que por um homem, a tal ponto se mostra ele  embaraçado em cada negócio. Assim, o filósofo não é bom, nem para si, nem para o seu  país, nem para os seus. 

Tudo o que fazem os homens está cheio de loucura. São loucos tratando com loucos. Por  conseguinte, se houver uma única cabeça que pretenda opor obstáculo à torrente da  multidão, só lhe posso dar um conselho: que, a exemplo de Timão*, se retire para um  deserto, a fim de aí gozar à vontade dos frutos de sua sabedoria.

* Escandalizado com os costumes dos seus concidadãos, esse filósofo se retirou para um deserto, rompendo toda a ligação com os homens.

- Sobre a vida e a condição humana.

Quem anima os homens a descobrir, a transmitir  aos seus pósteros tantas produções, ao parecer excelentes, se não a sede de glória? Acharam  esses homens, na verdade bastante tolos, que não deviam poupar nem velas, nem suor, nem  esforços de fadiga para conquistar não sei que imortalidade, a qual não passa, em última  análise, de uma belíssima quimera. Deveis, pois, à Loucura todos os bens que já se  introduziram no mundo, todos esses bens que estais gozando e que tanto contribuem para a  felicidade da vida.

Vamos à aplicação: que é, afinal, a vida humana? Uma comédia. Cada qual aparece diferente de si mesmo; cada qual  representa o seu papel sempre mascarado, pelo menos enquanto o chefe dos comediantes  não o faz descer do palco. 

Além disso, se a natureza vos fez homens, a verdadeira prudência exige que não vos eleveis acima da condição humana. 

Eu desejaria que esses censores indiscretos  soubessem dizer-me o que será mais estúpido: viver alegre e satisfeito, ou eternamente  desesperado até se enforcar com uma corda. 

Não imaginais quanto perdem os pássaros da sua primitiva  beleza, quando aprendem, nas gaiolas, os nossos cantos.

Por tudo isso, nunca terei louvado bastante a Pitágoras por se ter transformado em galo.  Esse filósofo, em virtude da metempsicose, passou por todos os estados: filósofo, homem,  mulher, rei, confidente, peixe, cavalo, rã e creio até que  esponja. E, depois de todas essas  transmigrações, declarou que o homem era o mais infeliz de todos os animais, pois todos os  outros estão satisfeitos de ficar nos limites prefixados pela natureza, enquanto só o homem  se esforça por ultrapassá-los.

(Fim do Bloco I)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Números trágicos

Relutei bastante tempo em postar alguma coisa sobre a tragédia que se abateu sobre o estado do Rio de Janeiro nos últimos dias. É certo que as águas caíram em volume muito acima do esperado para esta época do ano ou qualquer outro período, mas o fato que é muitos foram imprudentes e os governos foram  omissos em relação à ocupação de áreas de risco. E o resultado não poderia ser mais triste: o número de mortos na serra fluminense sobe para 796, 417 pessoas continuam desaparecidas na região. Provavelmente, o total de mortos deve passar de mil pessoas até o final deste mês. Felizmente, existe a solidariedade e a tecnologia para amenizar o sofrimento das vítimas.

No Sul do Brasil, mais chuvas fortes, mais estragos. É uma região mais preparada para esses eventos, mas sempre os prejuízos surgem. E novas vítimas são feitas. Enquanto não tivermos um plano nacional para emergências bem elaborado, áreas de risco mapeadas e equipes treinadas, os números trágicos continuarão a pipocar trazendo com eles mais dor e sofrimentos evitáveis.

Doações.

Quem quiser ajudar pode colaborar com doações (água potável, alimentos, roupas) em muitos postos espalhados pelo país. Doações em dinheiro:

Prefeitura de Teresópolis - Banco: Banco do Brasil, Agência: 0741-2
Conta: 110000-9 (nome “SOS Teresópolis – Donativos”).
Banco: Caixa Econômica Federal - Agência: 4146, Conta: 2011-1.
O CNPJ da Prefeitura é 29.138.369/0001-47.

Prefeitura de Nova Friburgo - Banco: Banco do Brasil, Agência: 0335-2, Conta: 120.000-3.

Prefeitura de São José do Vale do Rio Preto - Banco: Banco do Brasil, Agência: 0080-9, Conta: 77000-0.

Prefeitura de Areal - Banco: Banco do Brasil, Agência: 2941-6, Conta: 15.708-2.

Prefeitura de Sumidouro - Banco: Banco do Brasil, Agência:2483-X, Conta:16029-6.

Prefeitura de Bom Jardim (SOS Bom Jardim) - CNPJ: 28.561.041/0001-76
Banco: Banco do Brasil, Agência: 1652-7, Conta: 20.000-X.

Defesa Civil – RJ
Banco: Caixa Econômica Federal, Agência: 0199, Operação: 006, Conta: 2011-0.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mais blogs sobre xadrez.

Uma pequena lista de blogs/páginas sobre o xadrez nacional:


http://rodrigodisconzi.blogspot.com/
http://www.xadreztotal.com.br/
http://vidaemminiatura.blogspot.com/
http://www.gmdarcylima.com.br/
http://mfevandrobarbosa.blogspot.com
http://jornaldiarioxadrez.blogspot.com/
http://xadrezunderground.blogspot.com/
http://xadrezcearense.com.br/

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Xadrez por quem joga xadrez de verdade!

Recentemente topei com dois blogs sobre xadrez de dois dos melhores enxadristas do Brasil, Krikor Sevag Mekhitarian e André Diamant. Esses dois jovens já alcançaram o título de grande mestre (GM). Sem mais delongas, os links desses blogs:

http://krikorsm.blogspot.com
http://maolaroda.blogspot.com

Para finalizar, uma página muito interessante sobre xadrez:
http://www.tabuleirodexadrez.com.br/index.htm

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Senha perdida ...

Definitivamente a minha memória não é a mesma! E esse monte de contas, emails, senhas não ajudam muito. Agora que estou de volta a ativa, vamos tentar manter esse blog funcionando com pelo menos uma postagem por semana sobre assuntos aleatórios. E feliz 2011 para todos que estão vivos!